As nossas escolhas
Ao longo da minha vida, tenho sido sempre confrontada por ter feito determinadas escolhas. Muita gente não concorda, mas outras pessoas apoiam. E isto em tudo. Na política, nos sindicatos, nas associações, na cultura, nas artes, do que faço nos tempos livres e nos tempos ocupados.
Acho que, todas e todos, somos assim. Fazemos escolhas. A vida sem escolhas fica confusa e sem cor, é como que andar ao sabor das “correntes” sem qualquer interesse, e por isso as consequências dos atos nunca são assumidas e há sempre alguém que se vai responsabilizar pelas mesmas.
As minhas escolhas nem sempre são fáceis, sobretudo quando envolvem pessoas e organizações. Então, ultimamente, elas têm levado a que me virem a cara, deixem de me considerar a pessoa que nunca deixei de ser, falem por detrás das minhas costas, mostrem hostilização permanente, e mesmo os sorrisos, esses, esmoreceram muito, como se eu tivesse uma espécie de doença contagiosa que se propaga facilmente.
Se dissesse que tudo isto é-me indiferente, estava a mentir e a disfarçar sentimentos que estes comportamentos me causam, vindos sobretudo de pessoas das quais sempre considerei próximas, mas que afinal se deixam vencer pelo lado negro da vida, em que preferem o unanimismo à democracia viva, discordante, por vezes, mas sempre defendendo os princípios da liberdade de expressão e de opinião, que nos foram transmitidos pelo 25 de Abril de 1974.
Nas minhas escolhas, prefiro sempre defender as minhas opiniões frontalmente, olhos nos olhos, procurando apresentar, sempre, propostas alternativas e concretas. Ninguém me pode acusar de ter traído ninguém pelas costas porque isso não faz parte da minha forma de ser. Sempre disse o que pensava, nas ocasiões próprias e não andei, nem ando a dar palmadinhas nas costas em gente que traiu e enxovalhou pessoas de bem e camaradas de luta.
Mesmo as Pessoas que tenho apoiado em lugares públicos sabem que critico quando acho que o tenho de fazer, mas não traio nem ando na praça pública a colocar entraves ao seu trabalho. Quando acho que estão a cometer erros falo, apresento ideias e sinto que as mesmas não têm caído em saco roto. É assim que considero que é possível corrigir erros a bem das pessoas que representamos.
Pessoas como eu não são muito queridas. São consideradas umas chatas e às vezes gostaria de ser “mosca” para saber que outros nomes me chamam. Há uma grande pressão na sociedade para cada vez mais ser meia dúzia de pessoas a decidir e serem milhares a cumprir. Comigo não contam para isso. Em lado nenhum. Sou defensora da democracia participativa em tudo. A auscultação das opiniões deve ser feita permanentemente e não só quando dá jeito. Saber ouvir as opiniões e tê-las em conta é o mais bonito da democracia. Assim, nas intervenções públicas, sentiremos que a nossa opinião conta. Nos discursos, em nome de um coletivo, quem os faz não pode debitar apenas a sua “douta” opinião, mas, sobretudo, saber representar as opiniões e propostas que o seu coletivo tem para aquela ocasião concreta.
Foi assim que aprendi há 44 anos a trabalhar, e, em tudo o que ainda posso fazer, gosto de me lembrar que, “sozinhos, não somos nada, e juntos temos o mundo nas mãos”.
Publicado em Dnoticias.pt