O Governo apoia "brinquedos caros para meninos ricos"

O apoio à compra de carros eléctricos para uso particular, num milhão de euros, é uma ajuda à compra de brinquedos caros por meninos ricos, não vai resolver nenhum problema ambiental e muito menos do congestionamento do transito e da ocupação do espaço útil da cidade. Esse valor deve ser antes canalizado para investimento nos transportes públicos colectivos.

As vantagens da substituição de veículos a combustão por eléctricos não são inequívocas do ponto de vista dos custos ambientais, se for considerado todo o ciclo de fabrico das viaturas e das componentes, em particular das baterias. Esses danos da exploração e transformação do lítio não nos afectam? Sim afectam, não há como escapar às consequências da degradação ambiental e do aquecimento à escala global, onde quer que sejam praticados os actos danosos.
Os outros malefícios de uma mobilidade baseada no transporte individual persistem com a substituição por eléctricos: o congestionamento do trânsito, os tempos de deslocação crescentes, o stress, os acidentes, os encargos com a manutenção das vias e dos estacionamentos, o espaço subtraído nas cidades, etc.
O transporte colectivo surge como a alternativa que inequivocamente ataca todos estes problemas e ainda reduz a factura das importações de veículos e de combustíveis. Também favorece as camadas mais pobres que não têm alternativa de mobilidade, pois não ganham para pagar um carro.
Todavia faria sentido apoiar a introdução de veículos ligeiros eléctricos cujo uso é interesse público: para servir como táxis ou na criação de novos modos de mobilidade como a partilha de automóveis, bicicletas ou trotinetes, como já acontece em muitas cidades pelo mundo.

Quem vai beneficiar com o programa? As famílias mais ricas e os concessionários que vendem os veículos eléctricos.
Segundo os dados da ACIF foram vendidos nos últimos quatro anos menos de 13.000 viaturas ligeiras na Madeira, para um total de 137.000 viaturas em circulação – menos de 10% das viaturas em circulação podem considerar-se novas (menos de 4 anos).
A esmagadora maioria das famílias madeirenses não tem capacidade financeira para comprar uma viatura nova, muito menos uma eléctrica, que custa cerca de 30.000 euros. Apenas uma ínfima parcela dos madeirenses – os mais endinheirados – podem habilitar-se ao apoio criado pelo Governo de até 10.000 euros para comprar um carro novo.
A medida criada pelo Governo Regional é extremamente injusta no plano social, vai trazer benefícios (ambientais) ridículos que não justificam o investimento. Há alternativas, como canalizar essa verba para termos melhores transportes públicos e mais baratos, com muito maiores vantagens nos planos social, económico e ambiental.

(imagens do Diário de Notícias da Madeira, edição de 23 de janeiro de 2020)