Vicissitudes da democracia
Quando os governantes gastam algum dinheiro do erário público em prol do bem comum, publicam logo na comunicação social os milhares ou milhões gastos nessa área, como se nos fizessem um grande favor. No entanto, a maior parte dos orçamentos do Estado tem sido para capitalizar bancos, como o BES e o BANIF. Nós pagamos bem caro por eles e continuam nas mãos dos privados.
Mas ainda há pouco tempo um hoteleiro dizia que, se for cobrado “o tal euro” por dia na estadia dos turistas, esse dinheiro tem de ser gasto no sector do turismo. E eles, os empresários desse sector, que não gastam um cêntimo nessa operação, terão direito a opinar sobre o emprego desse dinheiro.
Ora bem, então e o povo que tem pago bastante do seu bolso não tem direito à propriedade dos bancos que foram salvos com o nosso dinheiro?
Em relação ao 25 de Abril e à revolução que se seguiu até o 25 de Novembro, isso continua a fazer engulhos a diversas pessoas. Num debate da TV Madeira assisti a uma descarada tentativa para denegrir a revolução que aconteceu e ao querer justificar a acção da FLAMA, dizendo que certas pessoas estavam com medo de uma ditadura que estava a ser edificada em Portugal Continental. Pois é, mas esses tais sentiam-se bem com a ditadura de Salazar e Caetano e não gostaram que houvesse mudança política.
Para amaciar a “pílula”, afirmou-se que a FLAMA pôs bombas, mas não mataram ninguém. Ó meus senhores, eu vi o fumo do rastilho à frente dos meus olhos e, se tivesse feito rebentar o petardo, teríamos morrido dentro da sede da UPM na Rua do Castanheiro. Às 4h da manhã, estava eu de vigia numa janela virada para as traseiras do prédio e, enquanto eu fui rapidamente à casa de banho fazer um chichi, uns meliantes atiraram um petardo das traseiras de um prédio da Rua das Pretas. (Só pode ter sido) Como foi atirado à pressa, pois sabíam que havia vigilância, o rastilho aceso separou-se do petardo. Quando voltei para o meu lugar à janela, vi um fuminho no quintal, chamei os meus camaradas e, nisto, ouvimos um estalido como se fosse uma bombinha de Natal. Se o rastilho estivesse preso ao petardo tinha explodido e o prédio cairia em cima de nós e teríamos morrido sob os escombros. Ao amanhecer fomos procurar e encontrámos o dito petardo, que continha uma dúzia de velas de gelemonite.
Algum tempo depois, um carro desceu a Rua do Castanheiro, o ocupante do lado do condutor fez cair o petardo à frente da nossa sede que explodiu logo a seguir. A Clarisse e o Teixeira foram atirados para o fundo da sala e podiam ter morrido.
Os flamistas sabiam que estávamos de vigia, atiravam à pressa e fugiam para não levaram com umas pedras na cabeça, mas a verdade é que queriam matar-nos.
E as bombas montadas na estrada do aeroporto para atingir o 1º Ministro Pinheiro de Azevedo, o Otelo e as suas comitivas? Se não fossem desmontadas a tempo teriam matado muita gente. E os danos materiais, privados e públicos? A antena da radiodifusão foi destruída, pelo menos, duas vezes. O prédio da Caixa de Previdência foi atingido por bombas que deram prejuízos de milhares de contos. Até destruiram um avião.
Quem quiser esclarecer-se sobre os bombardeamentos da FLAMA pode procurar no jornal Página Um, (está na Internet) em 1976, nos meses de Julho e Agosto (salvo erro). Em Portugal Continental também existiu a ELP e o MDLP, com sede em Espanha, que puseram Portugal a arder e mataram muita gente. Quando eu vejo um senhor comentador, com ar muito democrático a debitar opiniões e moral em cima dos demais, eu mudo logo de canal, porque, segundo o autor do livro “Quando Portugal Ardeu”, ela também ia à Espanha conferenciar com os líderes do MDLP.
Publicado em dnoticias.pt