Rolihlahla, “o agitador”...
Excerto retirado do discurso de tomada de posse de Nelson Mandela como Presidente da África do Sul, proferido a 10 de Maio de 1994.
No passado dia 11 de Fevereiro completaram-se 29 anos desde o dia da libertação de Nelson Mandela. Foi um dia memorável e histórico. Representou a devolução à Liberdade de Alguém que dedicou a quase totalidade da sua vida à luta pelos princípios da igualdade, da democracia e da justiça social.
Assim, quero aproveitar este meu artigo para prestar um muito singelo tributo a este Grande Homem:
Nasceu no dia 18 de julho de 1918. Deram-lhe o nome de Rolihlahla Dalibhunga Mandela. Curiosamente, Rolihlahla significa “o que faz mexer a pernada de uma árvore”. É também sinónimo de “agitador”. Longe estavam os pais de Mandela de saber que o significado do nome que tinham escolhido para o seu filho, acabaria por ser prenunciador de toda a “agitação” que o mesmo iria provocar na sociedade sul-africana.
Aos sete anos de idade é enviado para uma escola de missão, na qual lecionavam missionários cristãos. Foi aí que lhe foi atribuído o nome de Nelson, por um dos professores, uma vez que nessa escola eram proibidos os nomes africanos que não fossem cristãos.
Tendo ficado órfão de pai aos nove anos, foi viver com a família real dos Thembu. O chefe desta família (Jogintaba Dalindyebo), tornou-se assim no seu pai adotivo tendo sido este quem começou a ensinar a Mandela as histórias dos antepassados africanos e das suas lutas pela independência face aos colonizadores europeus.
Com 20 anos Mandela ingressa na Universidade de Fort Hare, a qual era frequentada exclusivamente por estudantes negros. Mais tarde matriculou-se em Direito na Universidade de Witwatersrand em Joanesburgo. Era o único aluno negro do seu departamento.
Nesta época vigorava o regime designado “apartheid”, que se traduzia numa cruel e injusta discriminação e separação racial. Negros, indianos e todos os que não fossem brancos, tinham de viver separados e sujeitos a leis que tratavam de forma diferenciada os brancos e os não brancos. Mandela, filiou-se em 1942 no ANC, partido que desde a sua fundação em 1912 lutava por uma sociedade multirracial onde brancos e negros pudessem viver em paz e plena harmonia. Esta nobre intenção ficou plasmada na célebre Carta da Liberdade, elaborada em 1955 pelo ANC, em cujo teor constava uma lista de princípios tendentes à sua prossecução.
Em 1960 ocorre o trágico massacre de Sharpeville, no qual são brutalmente assassinados mais de 60 pessoas negras que participavam numa manifestação pacífica contra o “apartheid”. Este foi o rastilho para uma inversão na estratégia de luta contra o regime, tendo sido criado um grupo de luta chamado Umkhonto we Sizwe que apregoava o uso da violência como forma de combater o poder estabelecido. Mandela é forçado a passar para a clandestinidade. No entanto acaba por ser preso e condenado a prisão perpétua pelo crime de tentativa de golpe de estado violento contra o governo, pena que cumpriu a partir de 1964 e em grande parte na cadeia de máxima segurança de Robben Island, a poucos quilómetros da costa sul-africana.
Em 1986, através da ação do Presidente de Klerk, é que se desencadeou o processo que culminou na libertação de Mandela em 1990.
Mandela foi posteriormente reconhecido e distinguido com o Prémio Nobel da Paz em 1993 e no ano seguinte foi eleito Presidente da África do Sul numa eleição onde pela primeira vez puderam participar e votar homens e mulheres de todas as raças.
Com este breve resumo biográfico da vida de Nelson Mandela, presto a minha modesta homenagem a um Homem que lutou por uma sociedade mais solidária, fraterna e livre. Este nobre ideal, que infelizmente hoje encontra-se cada vez mais em risco com o emergir de ideias fascistas, racistas e xenófobas, deve ser por todos os cidadãos conscientes e de boa-fé frontalmente defendido.
Que a Liberdade jamais seja derrotada!!!
Publicado em JM-Madeira.pt