Politiquices...

Os tempos mais recentes na atividade político-partidária foram marcados por um conjunto diversificado de situações, que dado o seu caráter inusitado, considero serem politiquices.

Ora vejamos:

No próximo dia 26 de maio realizam-se eleições para o Parlamento Europeu, nas quais serão eleitos 21 eurodeputados portugueses. Esta eleição deveria ser assim o pretexto para se debaterem e discutirem questões eminentemente relacionadas com o futuro da União Europeia. Infelizmente, registei algumas afirmações de responsáveis políticos que contrariam esta tese: António Costa, Primeiro-ministro afirmou que “quero pedir um voto de confiança a este governo, a esta governação nas eleições para o Parlamento Europeu”; Rui Rio (líder do PSD) referiu que “no dia 26 de maio, com o seu voto, vão dizer de forma clara: estou contente ou estou descontente com a governação”; Nuno Melo (candidato do CDS) disse que “o que eu peço a cada eleitor é que mostre nestas eleições uma moção de censura ao governo”. Bom, como facilmente se constata, estas afirmações distorcem completamente o real propósito das eleições europeias. Lamentavelmente, são um contributo precioso para a manutenção ou aumento dos níveis de abstenção neste ato eleitoral. Numa conjuntura em que o projeto europeu corre o sério risco de ser destruído; em que se dá o Brexit; em que a UE se vê confrontada com as crises migratórias e chegada dos refugiados; na qual os efeitos perniciosos das alterações climáticas são notória e crescentemente sentidos; onde os populismos e ideais xenófobos, racistas e de extrema-direita galgam terreno no seio da UE, assistimos a afirmações que incutem a ideia de que é a governação nacional que deve ser avaliada nestas eleições.

Pessoalmente entendo, que esta é uma oportunidade única para se discutir o que queremos deste projeto e como deveremos perspetivar e concretizar a sua construção e consolidação. Se a UE corre o risco de se desintegrar, tal acontece porque a mesma está sendo dirigida e implementada através de uma forma que não envolve os cidadãos europeus e simultaneamente é geradora de desigualdades e injustiças entre os países integrantes. Importa assim refletir sobre que modelo político de união é premente edificar. Entendo que o nobre propósito de termos um espaço de paz, coesão, solidariedade e colaboração implica necessariamente que cada país esteja disposto a abdicar de um pouco da sua soberania, em prol da criação de uma democracia transnacional, sustentada por uma constituição política europeia, que fosse elaborada no seio de uma assembleia constituinte europeia, eleita por sufrágio universal dos cidadãos europeus. O futuro da UE, na minha opinião, terá de passar invariavelmente por este caminho e por este passo. Admito que é uma perspetiva “politicamente incorreta”, mas não vejo outra forma de se poder criar as condições para que a UE seja efetivamente um projeto dos Povos, para os Povos e pelos Povos. No último debate mensal com o Governo Regional realizado na ALM, versando o tema da “Europa”, confrontei o Vice-Presidente do GR com esta minha visão e quis saber qual a opinião do GR sobre esta matéria. A resposta obtida, foi a de que o que é realmente importante é que os 3,8 mil milhões de euros que vieram para a Madeira desde a integração do país na UE continuem a ser executados como têm sido e combater a redução dos fundos comunitários. Dissertações politico-filosóficas não eram para serem discutidas naquele fórum. Fica assim claro que para o GR a UE é vista única e exclusivamente como uma fonte de financiamento, género “vaca leiteira”, que urge aproveitar ao máximo enquanto der. Quando deixar de dar, então já não vale a pena continuar a integrar a UE.

Enfim, termino como comecei…são politiquices!

 

 

Publicado em JM-Madeira.pt