Pecados Capitais II
O outro Pedro, campeão da COVID e vedeta das conferências de imprensa em tempos de pandemia, andava aborrecido. Ninguém sabe se por ter perdido protagonismo, se por ter o Serviço Regional de Saúde (SRS) em cuidados intensivos.
O certo é que resolveu mostrar os seus bons serviços ao partido e começou a "tratar" de quem se candidatou contra o seu homónimo e amigo, nas autárquicas.
Ficámos a saber, na passada semana, que a consulta de sexologia que estava a ser ministrada no Centro de Saúde do Bom Jesus, por sinal a única que existe na RAM desta valência, foi unilateralmente extinta. Soubemos também que esta consulta estava a ser acompanhada por uma médica que foi candidata nas listas da Coligação Confiança. Coincidências?!
O SRS justifica a dispensa com a pouca procura - será que à boa maneira dos nómadas digitais ou dos empregadores "modernos" também utilizaram o e-mail? Ou preferiram o whatsapp? Embora o que esteja na moda seja mesmo o tiktoc. Opinião distinta tem o sindicato, que fala em lista de espera e em não existir uma alternativa para os pacientes desta consulta.
Perante isto, é caso para perguntar ao Secretário da Saúde: e os pacientes, pá?
Com a Saúde ligada às máquinas e a obra do novo hospital a dar água pela barba e até a interromper o discurso do chefe, o Secretário da tutela tem muito em que pensar e tem de definir prioridades. E isto de as pessoas quererem e precisarem de ter uma consulta ou de fazer um exame não parece ser uma delas. Elas que esperem!!
Afinal as listas de espera são um processo dinâmico… de crescimento. E, depois de dois anos de cerca sanitária aos serviços de saúde regionais e em que se diagnosticou pouca coisa para além do SARS-CoV-2, esta missa ainda vai no adro.
Se o amigo Pedro, o da Câmara, aqui estivesse certamente diria: e qual é o problema?!
É caso para pensar que, para além de homónimos, estão em sintonia: que se lixe o povo, pá.
O combate às gigantescas listas de espera aparentemente não tem um plano definido, pelo menos de acordo com algumas notícias e declarações veiculadas pelos jornais. Mas podem ser só as más línguas ou algum(a) corajoso(a) ou incauto(a) que não foi aconselhado a tempo sobre os telefonemas dos jornalistas.
O que é por demais evidente é a carência de profissionais no Serviço Regional de Saúde, seja de assistentes técnicos e operacionais, seja ao nível dos profissionais de saúde dos cuidados primários, com falta de médicos de família nos centros mais populosos, como as cidades do Funchal e do Caniço, seja principalmente nos exames e acompanhamento hospitalar especializado.
Faltam 250 enfermeiros, contas do Sindicato, e se tivermos em consideração que uma consulta de especialidade, marcada num centro de saúde com a sinalização de urgente, demora mais de um ano a ser agendada, algumas dezenas de médicos faltarão certamente. Para não falar de cirurgias e da falta extrema de técnicos de diagnóstico já que o tempo de espera para fazer exames é "de morrer", por vezes, literalmente.
Parece que o sr. Secretário, apesar de aborrecido seja por que motivo for, também não tem tempo para agendar uma reunião com os técnicos de diagnóstico, a quem fez umas promessas antes das eleições e que agora anda a fugir com o rabo à seringa.
Poderá estar exausto, como acontece aos profissionais de saúde da Região que receberam pouco mais para além das palmas. Compreende-se. Não bastassem as dificuldades, a senhora administradora da área hospitalar também acha que deve intervir e fazer prevalecer a sua vontade sobre as decisões de responsáveis pelos serviços e é continuar a vê-los sair para o privado.
Ou se calhar passou o estado de graça que salvou Pedro Ramos do ranking dos maus resultados e todos os estudos dizem que os efeitos do pós COVID são um problema.
E os pacientes, pá?