O nosso quotidiano
É claro que o senhor Miguel de Sousa fez carreira política à volta da mesa farta. Diz ele que: “Nesses tempos, dinheiro não era problema.” Pois não! Quem paga as contas e os custos somos nós. Este e outros como ele não sofreram os males do PAEF por causa das dívidas escondidas durante anos. Não pagaram os calotes que as Câmaras, governadas pelo PSD, fizeram por toda a Região.
O Senhor José Manuel Rodrigues também diz que “há uma Madeira antes de Jardim e outra depois de Jardim”. E também há um país antes do 25 de Abril e outro depois. E não foi apenas o PSD que governou o nosso país depois do 25 de Abril de 1974. E não foram apenas os partidos do poder que mudaram Portugal durante os últimos 44 anos. Os outros partidos e muitos cidadãos e cidadãs muito se esforçaram para que o país e a RAM saisse do negrume de 48 anos de fascismo. E se em 1974 não houvesse o golpe que deitou abaixo Marcelo Caetano, Américo Tomás e todas as estruturas que seguravam o terrível regime, o Senhor continuaria a escrever artigos elogiosos ao Estado Novo, como já estava a fazê-lo.
O Senhor Miguel de Sousa afirma que os madeirense e portossantenses estão eternamente agradecidos ao dito senhor. Eu sou madeirense e não estou agradecida. Além das dívidas que deixou, do esbanjamento, da forma ofensiva e provocatória como tratou os adversários, ainda me atirou com um processo-crime para o Tribunal, por causa de um artigo de opinião que eu escrevi neste diário. Mas eu defendi-me sozinha perante uma magistrada e o processo foi arquivado porque não havia matéria criminal no meu artigo. E continuo a escrever e a publicar, porque não estou desacreditada e há liberdade de imprensa para quem respeita os leitores e a si própria.
Outro assunto: Eutanásia
Segundo o DN de 3/6/2018, esta palavra tem origem grega e significa “morte doce e fácil”. Não sei se alguma vez a morte é doce, mas o que esteve em discussão e votação na A. República foi um conjunto de regras que, sendo cumpridas rigorosamente, os profissionais de saúde poderiam abreviar a vida e a morte duma pessoa em situação muito dolorosa e sem qualquer esperança de sobreviver. Há pessoas religiosas que pedem a Deus que envie a morte ao seu familiar para acabar com o sofrimento dele. Também há outras que acreditam que a pessoa deve aceitar o sofrimento para remissão dos seus pecados. Mas nem todas as pessoas são religiosas. Se houver liberdade de escolha, cada uma e cada um pode escolher. Mas tem de haver lei que o permita. Desta maneira, os que são contra impõem a sua vontade a todos os restantes.
Eu sou uma mulher idosa e, naturalmente, penso que estou mais perto da morte que as pessoas mais novas. Não sei como vai ser o meu fim nem afirmo que quero que me dêem uma injecção para abreviar a minha morte. Neste momento, não tenho certeza de nada. Portanto, era bom que houvesse liberdade de escolha para, no momento certo, cada um e cada uma poder optar.
Os partidários do não à eutanásia apresentaram argumentos de vária ordem, como: “Não matem os velhinhos!” As doenças e a morte não escolhem idade. Meu pai morreu com 29 anos. E há diversas formas de matar. As pessoas do CDS e do PSD não deveriam abrir a boca para falar de VIDA. Quantas vidas foram destroçadas por causa das medidas governamentais do Governo PSD/CDS? Quantos suicídios? Tenham vergonha e pensem no que fizeram contra a vida dos portugueses, incluindo crianças e idosos.
Mas a bandeira que mais vibrou neste debate por parte dos que combatiam a eutanásia foi “Cuidados Paliativos”. Seria uma receita milagrosa para quem está a sofrer, mesmo em fase terminal. E quando olhei para o DN do dia 3/2/2018, deparei-me com o seguinte título: CUIDADOS PALIATIVOS PARA POUCOS. Em letras mais pequenas pode ler-se: “Estimativas do Sesaram indicam que 73% dos doentes com necessidades destes cuidados morrem sem os receber.”
Pois é. Falar é fácil porque a língua não tem osso e ninguém paga imposto por isso.. Como a votação já aconteceu, passa-se à realidade nua e crua. E vou terminar com a seguinte quadra que tirei de uma história maior:
Mas olha linda / Que esta vida é uma cantiga / Hoje é dia de alegria / E amanhã é que é a espiga.
Publicado em dnoticias.pt