“Golpe de calor”?!

Esclareçam em que condições ocorreu o óbito do jovem militar falecido

Foi ontem a enterrar, no Campanário, o jovem militar que faleceu devido a um “golpe de calor” (?!), ocorrido em plena instrução dos comandos do Exército. No momento em que escrevo estas linhas, não sei nada acerca da situação do outro jovem instruendo que foi internado numa Unidade Hospitalar do continente, aparentemente, por motivos idênticos. É evidente que existem óbitos que são fatalidades e que podem ocorrer em qualquer lugar e em qualquer situação. No entanto, e por respeito à vida que se perdeu e à dor dos seus familiares e amigos, importa que a investigação, já iniciada pela Polícia Judiciária Militar, esclareça em que condições ocorreu o óbito e se, num cenário de altas temperaturas, como o que se verificava, não existiu da parte dos responsáveis pela instrução pouco cuidado com a segurança dos instruendos. Quem já fez Serviço Militar sabe que não são assim tão raras as situações em que a resistência física dos recrutas são levadas ao limite e que, por vezes, as enfermarias das Unidades ficam cheias de instruendos que, por uma ou outra razão, têm que ter assistência médica. Maiores dúvidas levantam-se quando, neste caso concreto, e após a confirmação do óbito do jovem militar madeirense, um dos responsáveis do Exército afirma com todas as letras que, apesar de se manterem temperaturas na ordem dos 40ºC, os exercícios vão continuar apenas com “algumas adaptações”. Não querendo (ainda) qualificar de irresponsável esta decisão, importa, no entanto, saber que tipo de ‘adaptações’ são essas e se não seria mais ajustado interromper a instrução durante um ou dois dias até que as temperaturas descessem para valores menos perigosos. Porque se perdeu uma vida, e porque não se pode “pela Pátria” (?) colocar em risco a vida das pessoas, certamente que os responsáveis pelo Ministério da Defesa Nacional ou pelo Exército serão chamados para, em sede própria, esclarecerem o contexto em que esta morte ocorreu. Da mesma forma, e após conclusão da investigação que está a ser dirigida pelas entidades competentes, não deixará de ser ponderada a necessidade de avançar, ou não, com outros mecanismos de responsabilização, se existirem razões para tal.

Roberto Almada Coordenador regional do BE