Combater a violência doméstica é um dever moral universal

No rescaldo de acontecimentos recentes, tenho vindo a deparar-me com certos tipos de comentário que inquietam a minha perceção sobre a maneira como o público carateriza ideologicamente o feminismo.

Em 2017, eclodiram em Hollywood movimentos feministas, para a equidade salarial entre géneros e a luta das mulheres expandiu-se além-fronteiras, chegando mesmo a debate na sociedade civil.

Não obstante, o que me inquietou foi um comentário, numa das notícias acerca do terrível assassinato de uma mulher, em Portugal, causado por um crime de violência doméstica. O comentário questionava a localização das ditas defensoras das mulheres na luta contra a violência doméstica. Essa ‘espécie’ de feministas que segundo o que li, só se preocupam com a discussão da temática da igualdade de género.

No entanto, sinto que com a evolução dos anos e a libertação da temática da igualdade de género, tem vindo a gerar uma grande discussão, não tanto ideológica, como sobre o método sobre o qual a mesma retém efeito no quotidiano dos habitantes.

Familiarizemo-nos com a ação coerciva do patriarcado. Sim, ainda hoje uma constante, por não serem só as novas gerações, porque a sociedade rege-se num ciclo superior, na qual ainda se encontram moralmente enraizadas normas sociais com grande disparidade entre ambos os géneros.

O que quero com isto dizer é que existem, efetivamente, por mais que não queiramos que assim seja, papéis sociais que se definem como tradicionalmente atribuídos tanto aos homens, como às mulheres.

Neste sentido, e relativamente aos crimes de violência doméstica, que em vezes terminam em assassinatos, deixemos de achar que este é um assunto que diz respeito exclusivamente à luta do feminismo.

 

A violência doméstica não é um problema que só as mulheres têm de lutar para resolver, qualquer tipo de atentado à dignidade pessoal de um cidadão, é um Direito Humano, sendo por isso, um dever moral de cada indivíduo que assista ao mesmo, e não exclusivamente ao feminismo.

A título de exemplo deixo-vos o caso que nos é a todos muito comum: aquele casal de amigos, que nunca se entende, e que um deles, normalmente torna-se mais agressivo que o normal. Qual é o papel da pessoa que se encontra a assistir ao desenrolar destes acontecimentos? ‘Entre Marido e Mulher não se mete a colher’?

Qual é o desenrolar das ações? Tendo em conta a pressão social à qual sucumbem as vítimas de reprimir estes atos de violência pontuais, as denúncias são poucas. As denúncias formais exigem etapas processuais, que de certo modo, inibem as vítimas de prosseguir com os processos.

Consciencializemo-nos de que o Estado Social protetor das necessidades dos desprotegidos, sucumbirá sempre às mãos do papel, ativo ou não, dos seus cidadãos no combate a estas situações.

A não esquecer ainda, que a luta contra os crimes de violência doméstica, não afeta só indivíduos do sexo feminino, sendo por isso, não só importante na agenda da discussão política feminista, como também de todos os agentes da sociedade civil, nós enquanto agentes da mesma, e voz coletiva inclusive.

Não considero que haja uma zona cinzenta relativa ao espaço de qualquer tipo de crenças, considero que este seja um grande impasse moral, um desafio ainda maior para a sociedade civil e todos os seus intervenientes, que não só anda em largos passos para a frente, mas que também se esquece de colmatar graves problemas que existem enraizados em tradições vazias e genéricas.