A ciência e o desenvolvimento

A ciência e a investigação carecem de mais investimento público e de uma estratégia que envolva todas as entidades do setor, para os jovens tenham empregos de qualidade na região mais opções profissionais além de servente de pedreiro, empregado de mesa ou emigrante.

A investigação científica e tecnológica é fundamental para o desenvolvimento de um território, para o surgimento de novas atividades económicas de elevado valor acrescentado, para a criação de empregos de qualidade e para a fixação dos jovens qualificados. Tudo isto ainda é mais verdade numa pequena ilha periférica, sem recursos minerais para exportar, com uma reduzida parte do território com vocação agrícola, sem indústria exportadora, com uma economia dependente do turismo.

O caminho é apostar no saber, na investigação e na criatividade. O Tecnopolo e a Universidade nasceram com esse propósito declarado, mas passados 20 anos, onde estão os resultados? As proclamações iniciais traduziram-se numa aposta efetiva ou foram apenas pretexto para construir betão?

As empresas regionais mais relevantes no setor das tecnologias - Exictos e Acin - pouco devem do seu sucesso ao Madeira Tecnopólo ou a uma estratégia regional que não existe. Por outro lado entidades que poderiam dar maior contributo para a investigação e desenvolvimento na região, preferem comprar tecnologia prontas no exterior, como é o caso de EEM e da compra de contadores inteligentes para o Porto Santo por 2,6 milhões (550 euros cada contador). Incompreensível esta opção tratando-se de uma empresa pública regional.

A aposta do governo regional resume-se a 500.000 Euros para a ciência e investigação promovida pela ARDITI, o que contrasta com os milhões canalizados todos os anos para o desporto profissional. O M-ITI recebe zero e ali desenvolvem as suas atividades cerca de 40 jovens doutorados de várias nacionalidades. Se não existisse o M-ITI estes investigadores não estariam radicados na Madeira.

Este setor na Madeira, além da sua reduzida dimensão, depara-se com múltiplas entidades de costas voltadas umas para as outras, cada qual na sua capelinha. Além das já indicadas, nota para o Museu da Baleia e a Estação de Biologia Marinha.  

As iniciativas sobrepõem-se sem coerência nem continuidade - agora anuncia-se um “Brava Valey” e ignora-se o que já existia. Não há um visão de conjunto nem uma estratégia de futuro, sobram os impulsos do momento.

As autoridades regionais quando falam na criação de empregos normalmente referem-se a serventes de pedreiro. Quando se anunciam novas obras na construção civil, sejam públicas ou privadas, o discurso da criação de emprego está sempre presente, como se as obras se justificassem pelo emprego que criam enquanto decorrem e não pela utilidade do que é construído. Mas será que os jovens madeirenses não podem aspirar a ter na sua terra empregos de melhor qualidade, e os recém licenciados nas diversas áreas não terão outro remédio senão emigrar?

O Centro Internacional e Negócios gera receitas fiscais relevantes, mas será sempre algo muito incerto, em 2017 a saída de duas empresas do CINM gerou uma quebra de 80 milhões nas receitas de IRC e o emprego também há-de variar sempre ao sabor de imponderáveis. A Madeira precisa de uma aposta em empregos duradouros, em actividades que se estabeleçam na região com perspetivas de longo prazo. Atividades que ganhem raízes e se alimentem do conhecimento e da investigação produzidos na região.

Para tal o Orçamento da Região deve dedicar uma maior fatia à investigação, e o governo regional assumir este desígnio, definir um rumo coerente e envolver de forma consistente as várias entidades do setor.