Alice no país das maravilhas

Vivemos no país das maravilhas!

Onde tudo cresce. Cresce o turismo, cresce a economia e a produtividade, crescem os lucros extraordinários e os dividendos de administradores e accionistas, crescem as receitas do Estado.

Vivemos no país das maravilhas para os beneficiários dos vistos gold e das borlas fiscais, bem como para as empresas que declaram os lucros nas offshores e com isso cerceiam recursos financeiros ao país, com beneplácito dos sucessivos Governos.

Mas a Alice tem de acordar para a realidade de quem cá vive e faz este país, todos os dias. Neste país de todos os dias crescem os preços dos bens essenciais como nunca, crescem as taxas de juro do crédito à habitação e os preços especulativos das casas e do arrendamento. Crescem as listas de espera no serviço público de saúde e a taxa de mortalidade. Cresce o número de alunos sem professor, cresce a fome e os pedidos de ajuda ao Banco Alimentar. Cresce a inflação.

Só não crescem salários e pensões!

E isto também acontece porque o Governo do PS optou por colocar o ónus da crise em quem trabalha, novamente. E com isso, ao não proteger os rendimentos das pessoas que trabalham, está a provocar o maior empobrecimento do país desde a troika de Passos Coelho.

Um pouco por toda a Europa, os Governos tomam medidas para mitigar o impacto da subida dos preços, nas famílias: aumentam-se salários e são taxados os lucros extraordinários das empresas do sector energético e não só.

Em Portugal, o Governo do PS decidiu proteger quem está a lucrar mais com esta crise.

Este Orçamento de Estado, aprovado unicamente pela maioria absoluta do partido socialista, não serve aos portugueses. Não servia em Outubro, altura em que já eram evidentes os efeitos da crise energética e, hoje, com a guerra às portas da Europa por tempo indeterminado e com a crise alimentar que se faz sentir com cada vez mais força, que empurrou a inflação para níveis de há 30 anos, serve ainda menos.

E por mais que se vangloriem nas capas de jornais, os deputados do PSD e do PS eleitos pelo círculo da Madeira falham a todas e a todos os madeirenses e portossantenses.

Falham, porque no essencial a vida das pessoas está pior.

Continua por resolver a questão da mobilidade, aérea e marítima, bem como a questão das taxas portuárias que colocam os portos da Madeira entre um dos mais caros da Europa. E com isto, o custo das mercadorias, das quais somos dependentes em 95%, continua a aumentar.

Sacrifica-se o povo aos interesses e lucros das empresas do costume.

Há milhões de euros para obras num hospital que tem de ser o mais caro para sermos os melhores, mas continua por resolver a contratação de mais profissionais de saúde ou a melhoria das suas carreiras ou os milhares de consultas e de exames por fazer.

Sacrifica-se a saúde das pessoas aos interesses e lucros das seguradoras e das clínicas privadas.

Há milhões para Casas do Povo e IPSS que proliferam como cogumelos e sem sabermos muito bem o que fazem, nem a Segurança Social controla a atribuição desses dinheiros públicos – pasme-se!, mas as famílias desesperam por um lar onde possam colocar os seus idosos e dar-lhes a assistência necessária.

Sacrifica-se a vida e a dignidade dos nossos idosos aos interesses da máquina de propaganda do PSD-M.

Vangloria-se o PSD-M pela habitação de luxo; de sermos uma das regiões do país mais cara para comprar ou arrendar casa enquanto milhares de famílias madeirenses não têm um tecto digno para viver, ao mesmo tempo que os preços especulativos da habitação conjugado com a pressão do alojamento local está a expulsar os jovens dos centros das cidades e a devastar áreas agrícolas.

Sacrifica-se as futuras gerações à especulação imobiliária e à construção com regras light de PDM´s em revisão.

A questão demográfica na Madeira é de extrema preocupação e fulcral para o futuro da região, que tem a mais baixa taxa de natalidade. Todos os anos decrescem os nascimentos, mas nada tem sido feito para procurar reverter este grave problema que nem está na agenda do governo regional.

O património natural e da humanidade está a ser alvo do maior assalto de sempre e em várias frentes por toda a ilha, na continuidade da política do betão e cujo principal interlocutor tem sido, por ironia máxima, o presidente do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza.

Sacrifica-se o que é de todos para privilégio de alguns.

É urgente mudar este paradigma: de um modelo económico capitalista sanguessuga e escravizante, e de uma “democracia” musculada que persegue e oprime quem ousa pensar diferente e que aqui se vive há quase meia década.

É tempo de dizer Basta!