HIPOCRISIAS…

Os últimos tempos têm sido pródigos em situações ocorridas em vários domínios (político, social e desportivo), nas quais a hipocrisia e a tendência para posturas “politicamente corretas” evidenciaram-se de forma bem explícita.

Aquando dos massacres ocorridos no jornal satírico “Charlie Hebdo” bem como mais recentemente em Paris, o que não faltou nas redes sociais foi a profusão em larga escala das afirmações “Je suis Charlie” e “Je suis Paris”. As pessoas que adotaram esta frase, quiseram com isso, e bem, mostrar que repudiavam os ataques terroristas e assassinatos de jornalistas e cidadãos. Mostraram ser defensores da liberdade de expressão, da liberdade religiosa e sobretudo ser contra qualquer atitude humana que retire a vida a terceiros. Pois muito bem, há cerca de oito dias, em Orlando, uma cidade do Estado da Florida, EUA, um cidadão americano entrou numa discoteca (Pulse Club), matou 50 pessoas e feriu 53 naquele que é considerado o maior massacre ocorrido nos EUA perpetrado por uma única pessoa.

Curiosamente, este ato que em termos de barbárie em nada se diferencia dos ocorridos em Paris e no jornal Charlie Hebdo, já não gerou a mesma onde de indignação, revolta e solidariedade coletivas. Já não foi visível a divulgação de frases do género “Je suis Orlando” ou “Je suis Pulse Club”. Pergunta-se: qual a razão de ser desta atitude? Será porque os frequentadores da referida discoteca eram na sua maioria assumidamente homossexuais? Será porque, na cabecinha das pessoas, ser solidário com as vítimas de Orlando significa dizer que se concorda com a homossexualidade? Se assim é, pelos vistos, para a maioria das pessoas que se mostraram tão solidárias com os jornalistas e cidadãos parisienses, o valor da vida de uma pessoa depende da sua orientação sexual. Se for heterossexual é um escândalo ser assassinado. Mas se for homossexual, já não nos choca nem nos indigna e revolta.

No programa do atual Governo Regional encontra-se a seguinte afirmação: “O Governo Regional procura, portanto, afirmar uma nova forma de fazer política, como também de estar na política. Queremos estabelecer uma nova etapa assente numa equação de equilíbrio entre partidos e movimentos políticos, no respeito pelas instituições democráticas e na separação efetiva de poderes.”

Na recente discussão de uma moção de censura na ALRAM, o Governo através da intervenção de um Secretário Regional referiu que aquela sessão custava 25 mil euros e que o seu resultado iria ser igual a zero. Com esta afirmação, o GR mostrou de forma bem clara o quanto se “revê” na sua afirmação de querer respeitar as instituições democráticas. Pelos vistos, em situações de maior pressão política, o verniz deste PSD renovado estala e põe a nu a hipocrisia subjacente a determinadas boas intenções, que como bem diz a gíria popular, está o inferno cheio.

Como estamos em época de Campeonato Europeu de Seleções e Copa América, uma breve referência para o seguinte aspeto: um dos chavões do "politicamente correto" é afirmar e sublinhar que o Desporto é, e deve ser, uma Escola de virtudes e valores. Neste pressuposto, os Desportistas enquanto protagonistas e agentes operacionais do mesmo têm em si uma responsabilidade acrescida no fomento e demonstração prática e real da afirmação acima referida. Digo isto, porque não consigo deixar de expressar a minha revolta e indignação com atitudes de "desportistas" que colidem objetivamente com a ética, a honestidade e a justiça enquanto Valores que deveriam emanar de uma saudável prática desportiva. Situações como a validação de golos marcados de forma bem visível com a mão (como o foram, a título de exemplo, o golo do Perú contra o Brasil na atual Copa América; o golo de Maradona contra a Inglaterra em 1986; o golo de Vata contra o Marselha em 1990), nas quais os infratores não tiveram a decência e a hombridade de junto do árbitro corrigir e apelar à anulação do respetivo golo, revelam bem quão longe se encontra por vezes o Desporto de ser a tal Escola das virtudes e valores. Por esta mesma razão, também não consigo sentir pena dos injustiçados por estas situações, pois nada me garante que em situação inversa procederiam de modo diverso e correto.