ALGUMAS CONSIDERAÇÕES…

Desde a minha última crónica mensal no JM, alguns acontecimentos de natureza política, social e desportiva ocorreram, os quais, por diversas circunstâncias, merecem algumas considerações reflexivas.

Desde a minha última crónica mensal aqui no JM, alguns acontecimentos de natureza política, social e desportiva ocorreram, os quais, por diversas circunstâncias, merecem algumas considerações reflexivas. Ei-las: A visita do Primeiro-Ministro António Costa à RAM no fim de março foi pretexto para o PSD lhe encetar um ataque político bem como ao Presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo. Ambos foram acusados de estar a desrespeitar as estruturas regionais do PS, no que concerne à sua competência para decidir em matéria de estratégia autárquica na RAM. Não é meu propósito opinar sobre a validade dessa crítica. Mas não posso deixar de registar o facto inusitado do PSD supostamente tomar as dores do PS nesta questão. Inusitado, porque ao PSD interessa politicamente ter um PS fragilizado. Neste pressuposto, como compreender esta “solidariedade” social-democrata aos socialistas madeirenses? Só encontro uma resposta plausível: o desenrolar dos acontecimentos no seio do PS vieram reforçar a posição e o peso políticos de Paulo Cafôfo no combate autárquico que se avizinha, facto que natural e politicamente incomoda e preocupa o PSD. E se assim é, faço votos para que o PSD continue a ter mais motivos para demonstrar a sua preocupação solidária para com outros partidos.

A revisão do modelo do subsídio de mobilidade aérea entre a Madeira e o Continente foi também motivo de muita polémica. O mérito da mesma é trazer à evidência a falácia das teses que defendem a liberalização da linha aérea Madeira-Continente, senão vejamos: após mais de oito anos da adoção da referida liberalização, verifica-se que para garantir a existência de um serviço público de transporte aéreo, que satisfaça as reais, concretas e efetivas necessidades de deslocação dos cidadãos residentes na Madeira para o Continente, consensualiza-se um modelo que prevê que os mesmos paguem até um valor limite pelas respetivas passagens/bilhetes, sendo que o Estado posteriormente se encarregará de cobrir junto das companhias transportadoras o diferencial de preço. Em que é que esta solução difere do anterior modelo, onde a linha não estava liberalizada? O passageiro sabe que não pagará mais que um determinante montante. Anteriormente pagava um valor fixo. Aqui a diferença poderá ser que agora o valor limite será inferior ao anteriormente fixo. No entanto esta será a única vantagem. Nada impede que as companhias estabeleçam o preço que entenderem, pois sabem que o diferencial será sempre coberto pelo Estado, pois nenhum passageiro pagará mais do que 86 ou 65 euros consoante o caso de ser ou não estudante. O argumento de que as companhias não subirão de forma desmesurada as tarifas por causa da concorrência não é válido porque o passageiro no momento da compra não sabe (nem quer saber) qual é o preço real e total da sua viagem. Como todas vão estar a 86 ou 65 euros, vai escolher em função do horário e data que lhe sejam mais convenientes e não vai ter a preocupação de marcar antecipadamente. Ou seja, na prática, em termos orçamentais, esta “liberalização” sairá certamente mais cara ao Estado do que no modelo anterior, no qual eram atribuídas indemnizações compensatórias à TAP. Neste contexto de liberalização outra solução não seria nem é possível. Mas o que fica evidente é o acréscimo de encargos orçamentais que a mesma gera, que inevitavelmente e em última instância terá de ser suportado por todos os contribuintes.

Prossigo fazendo agora referência aos distúrbios e atos de vandalismo perpetrados por estudantes finalistas num hotel em Espanha. Não pretendo chover no molhado sobre esta questão, pois muito e tudo já foi dito, escrito e comentado sobre a mesma. Tão-somente pretendo, isso sim, evidenciar que quando os docentes de forma crescente referem a indisciplina como fator que obstaculiza o processo ensino-aprendizagem e muitas vezes por isso são apelidados de incompetentes que não sabem disciplinar e “manter os meninos na ordem”, não o estão fazendo de ânimo leve. Este tipo de atitudes é revelador da postura comportamental de parte da nossa juventude, que em contexto de aula impossibilita que a mesma se desenrole de forma normal e pedagogicamente adequada. Deixo aqui a minha expressão de solidariedade para com todos os meus colegas professores que diariamente lidam com alguns alunos reprodutores destes comportamentos e não têm a prerrogativa de os expulsar definitivamente das suas aulas.

Termino fazendo alusão à abjeta postura de uma claque legalizada de um clube que num evento desportivo, em vez de proferir cânticos de apoio ao seu clube, enveredou pela inqualificável atitude de entoar cânticos nos quais afirmava desejar que no avião do Chapecoense estivesse a equipa do clube adversário, bem como à agressão de um árbitro por parte de um jogador, que curiosamente também é membro da claque acima referida. Isto é a antítese total do que o Desporto deve apregoar e promover. Motivo mais que bastante para nos fazer a todos (decisores políticos, legisladores e cidadãos) refletir e agir em conformidade no sentido de serem tomadas as medidas adequadas para que estas situações definitivamente sejam erradicadas das competições desportivas! 

Artigo de opinião publicado na edição impressa e digital do Jornal da Madeira.