PAN garante maioria absoluta à direita

Sem maioria absoluta, Miguel Albuquerque disse que se demitia. Mas recuou na noite eleitoral e prepara um acordo com o PAN que permitirá ao PSD/Madeira ultrapassar a fasquia do meio século a governar a Região.

Depois de se coligar com o CDS, o PSD/Madeira já encontrou mais um parceiro para continuar a governar a Região Autónoma com maioria absoluta, tal como o faz desde 1976. Trata-se do partido Pessoas Animais e Natureza (PAN), que elegeu Mónica Freitas como deputada nas eleições de domingo e fez questão de anunciar, após contados os votos, que "as portas estão todas abertas" para negociar com o partido que domina há mais de quatro décadas o poder político e a administração pública madeirense.

"Obrigada por nos darem uma oportunidade de fazer diferente, por nos fazerem acreditar que é possível fazer política de outra maneira", disse a recém-eleita deputada do PAN, horas antes de fechar o acordo com o líder do Governo Regional que fez questão de passar todos os dias da campanha eleitoral a inaugurar obras, estradas, clínicas privadas e até supermercados por toda a ilha, incluindo no Funchal, autarquia onde o PAN está na oposição em coligação com o PS.

No Parlamento regional dos Açores, o voto do PAN serviu para viabilizar a aprovação do Orçamento proposto pelo Governo Regional de direita para 2023, ao lado do Chega.

 

Segundo o Expresso, o acordo alcançado em menos de 24 horas na Madeira deve ser anunciado esta terça-feira e terá incidência parlamentar, ou seja, não implica a participação do PAN no próximo Governo Regional.

Em entrevista ao Público esta terça-feira, o ex-líder do PSD Madeira,  refere-se à hipótese do acordo com o PAN afirmando que "nada me garante que não puxe o tapete". Por outro lado, Alberto João Jardim diz que "soube que, há três meses, esta senhora [cabeça de lista] do PAN entrou nos quadros do governo regional [como assistente social na Secretaria Regional de Inclusão] e talvez seja uma pessoa mais adaptável aos objetivos do governo".

Com o apoio do PAN ao executivo da direita madeirense, Miguel Albuquerque dá por concluído o recuo na sua promessa eleitoral de não governar sem que o eleitorado lhe desse maioria absoluta por não estar interessado em negociar com outros partidos. Confrontado pelos jornalistas na noite das eleições, o líder do PSD/Madeira ensaiou o recuo, dizendo que iria apresentar uma solução governativa com apoio maioritário.

Liberais também quebraram promessa eleitoral, mas acabaram descartados

Outro partido a quebrar promessas eleitorais após o fecho das urnas foi a Iniciativa Liberal, cujo candidato, Nuno Morna, dizia em campanha cinco dias antes das eleições que não faria acordos pós-eleitorais "nem com uns, nem com outros. Nós não fazemos acordos com socialistas, ponto. O PSD é socialista", acusava. E o próprio líder nacional da IL, Rui Rocha, recusava acordos parlamentares ou de governo e só aceitava negociar "medida a medida" com o PSD/Madeira.

Na noite eleitoral, o discurso do candidato foi o inverso da campanha, anunciando-se como "o adulto na sala" e disponível "para que se forme uma solução de estabilidade para a Madeira". No entanto, tudo indica que a disponibilidade liberal para ajudar o PSD/Madeira a continuar a governar a Região tenha sido dispensada por enquanto.