Entrevista ao DN-Madeira: "Há imensa pobreza no Concelho de Machico!"

Ricardo Giestas é o cabeça de lista do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Machico. Natural do Porto da Cruz, acabou de completar 30 anos de idade e é militante do Bloco desde 2015.

Qual é a motivação desta sua candidatura?

Para que haja um verdadeiro grupo de esquerda em Machico a lutar pelos cidadãos.

Faz falta uma política de esquerda em Machico?

Faz. E o exemplo mais flagrante dessa falta é o pouco apoio social que existe no concelho.

O porquê de concorrer pelo Bloco de Esquerda?

Porque identifico-me ideologicamente e porque as lutas do Bloco de Esquerda vão de acordo com aquelas que são as minhas lutas a nível pessoal.

Tendo em linha de conta a pouca expressão de votos que o partido tem tido em Machico, candidatar-se pelo BE pode ser encarado como um acto de coragem?

É sempre um acto de coragem, porque reconheço que este é um duro e um grande desafio, mas também porque acredito que é sempre possível.

Esse ‘sempre possível’ vai até onde? Qual é a sua expectativa nestas eleições? Ganhar a Câmara, conseguir ser eleito ou conseguir que o Bloco de Esquerda consiga ter representatividade nalgum dos órgãos autárquicos?

Respondo-lhe desta forma: aquilo que também alguns julgavam impossível, que era eleger um deputado à Assembleia Legislativa da Madeira nas últimas eleições Regionais, afinal resultou na eleição de um Grupo Parlamentar. Ou seja, nem tudo o que parece impossível é necessariamente inalcançável. E isto para dizer que não há impossíveis para o Bloco de Esquerda.

Mas as eleições Autárquicas disputam-se num contexto diferente das Regionais, onde o Bloco de Esquerda em Machico tem tido percentagens escassas. Há 4 anos ficou abaixo dos 2%. Apesar deste indicador, acha possível ou mesmo previsível que o Bloco de Esquerda consiga eleger nestas eleições?

É lutar por isso.

Esse lutar significa o quê, em concreto? Assumir que quer ganhar as eleições e alcançar a presidência da Câmara, ou conseguir que seja eleito vereador já será um bom resultado?

O objectivo é tentar eleger candidatos em todos os órgãos, seja na Câmara, na Assembleia Municipal ou nas Assembleias de Freguesia.

Admite então que candidata-se na expectativa de vir a ser eleito?

Digamos que sim. Pelo menos vamos todos lutar por isso.

E haverá espaço para o Bloco de Esquerda conseguir esse feito de pelo menos eleger um vereador, sabendo-se que o histórico eleitoral em Machico tem sido sistematicamente repartido pela hegemonia do PSD e PS?

Essa decisão deixamos nas mãos do povo. São eles que votam, portanto, são eles que decidem.

Que argumentos vai apresentar para tentar convencer os eleitores de Machico a votar no Bloco de Esquerda?

Para começar, a proximidade do executivo à sociedade. Há que abrir as portas da Câmara ao povo, porque são as pessoas quem melhor sabe o que é que faz mais falta dentro do próprio município e onde há que melhorar.

E na sua opinião, qual deve ser o rumo da política camarária?

Principalmente importa encontrar forma de manter e chamar mais jovens para o concelho, que cada vez mais tem uma população envelhecida. Também é importante encontrar soluções para combater a pouca mobilidade que a rede de transportes oferece, e assegurar uma melhor sustentabilidade do próprio município. É necessário também apoiar mais a Cultura e a Educação, para que as pessoas também queiram viver no concelho.

Qual é a razão da particular preocupação pela área social?

Desde logo porque importa diminuir as desigualdades, que são imensas. Há imensa pobreza no concelho, sobretudo na faixa etária mais idosa, onde há muita gente que sobrevive com reformas de miséria. É preciso arranjar forma de apoiar mais condignamente esta gente mais carenciada.

Se for eleito, esta será a sua grande batalha?

Será a grande batalha, mas não só. Também irei defender a requalificação de alguns espaços, nomeadamente da Matur, que continua ao abandono. Julgo que envolvendo Câmara e Governo é possível e muito importante voltar a dar vida àquele espaço que já foi um grande centro turístico da Madeira.

Significa que é preciso mudar as políticas que têm sido seguidas pelos executivos camarários?

É, porque não basta a Câmara mudar, porque como se tem visto, muda a cor mas a política é sempre a mesma. Seja PS, seja PSD, têm feito sempre o mesmo.

Significa que o actual executivo socialista não tem tido uma governação mais à esquerda?

Evidentemente que não, porque o PS é um bloco central, e em relação ao PSD, apesar de serem de cores diferentes, o que se constata é que na prática acabam por seguir sempre o mesmo, com políticas muito iguais.

É por essa razão que diz que faz falta a Machico uma política verdadeiramente de esquerda?

É preciso ar fresco para o concelho. Gente nova que esteja disposta a lutar mesmo pela sociedade.

É a primeira vez que concorre como candidato em eleições partidárias?

É a primeira vez.

Candidatar-se à presidência de uma Câmara sem qualquer experiência política não poderá ser um handicap?

A falta de experiência pode ser encarada como um factor contra, mas também pode ser entendida como uma condição a favor, porque não há vícios. Aliás, a experiência adquire-se com a prática.

Sente-se preparado para exercer o mandato, se for eleito?

Com certeza

Já tem a lista constituída?

Ainda está a ser preparada.

O Bloco de Esquerda em Machico vai concorrer a todos os órgãos autárquicos?

Isso ainda está em aberto, mas em princípio sim.

Não é difícil para um partido como o Bloco de Esquerda reunir o número de candidatos necessários para constituir listas a todos os órgãos de poder local?

Fácil não será, mas também há muita gente insatisfeita com o que vem sendo feito no concelho de Machico.

Tem o apoio da família?

Obviamente que sim.

Se não for eleito, será uma derrota?

Será acima de tudo uma aprendizagem.

(Entrevista publicada na edição impressa do DN Madeira de 10 de Abril 2017)