Essência da Democracia

Respeitar as diferenças, por dentro e por fora das organizações, é a essência da democracia

Encerro hoje os meus artigos de opinião de 2018. O ano que está quase a encerrar veio com altos e baixos, em vários aspetos, mas como a vida e para ser vivida, tenha ela a cor que tiver, acho que valeu a pena ter chegado até aqui.

Agradeço ao DN a oportunidade de poder opinar sobre o que eu quiser, sem quaisquer condicionalismos. Agradeço a todas as Pessoas que gostam de ler o que escrevo e que o manifestam, quando me encontram na rua.

Nesta altura da vida, não é fácil termos o prazer de, uma vez por mês, transmitirmos publicamente o que mais nos preocupa, mesmo sabendo que, por vezes, as nossas opiniões não são comungadas por outras pessoas. Para mim, esta é a essência da democracia. Concordarmos e discordarmos, sem que isso signifique algo de extraordinário nas nossas vidas.

Sinto que vivemos tempos de grande insegurança em relação à democracia, e de grande intolerância em relação a opiniões contrárias. Tu tens uma opinião contrária à minha, passas a ser meu inimigo. Tu não concordas comigo e não cedes à minha opinião, “não prestas para nada” e deixas de fazer parte do meu círculo de amizades.

Vivemos situações extremadas, mesmo ao mais alto nível dos Órgãos Institucionais, quando assistimos, no Parlamento Regional, a um deputado da maioria a gritar e a rasgar uma proposta apresentada por outro da oposição, numa manifesta falta de ética democrática. Predomina o maldizer em prol do bem-fazer. Quem se porta com seriedade e apresenta propostas válidas, quase não tem visibilidade, porque trabalhar seriamente já não dá audiências.

Ainda recordo com saudades o tempo em que discordar era salutar e benéfico. Que fazer política era, sobretudo, conhecer as aspirações do povo e tentar com que as mesmas fossem satisfeitas,

Recordo, com alegria, o prazer que nos dava conseguir direitos para as pessoas. Lutávamos por um mundo melhor e mais justo, e esse era o princípio que guiava a intervenção do que fazíamos. Agora, tudo isto não passa de saudosismo...

Respeitar as diferenças, por dentro e por fora das organizações, é a essência da democracia. Ninguém consegue trabalhar por uma causa comum quando os egos são alimentados por “cantigas” do maldizer e do mal fazer.

Senti que, neste 2018, predominaram em muitos lados, os egos de muita gente que se fechou em grupos e grupinhos, deixando para trás o mais valioso que é a união na diferença.

Na democracia, as regras estão bem definidas: propor, debater, votar e encontrar uma maioria. Se não o conseguir, o melhor é exigir o direito de pensar diferente, mas respeitando as regras de quem venceu. Sinto que isto não é fácil, mas aprender todos os dias a viver com as adversidades é fundamental. Não vale a pena queimar o tempo a tentar encontrar “bodes expiatórios”. A vida dá sempre as respostas certas, mesmo que às vezes seja da pior maneira.

Há quem acredite no karma. Eu acredito que, se semearmos coisas positivas, um dia as receberemos de volta. Continuo a considerar que vale a pena continuarmos a defender aquilo em que acreditamos e que, assim, estaremos a semear uma pequena sementinha para tornar o mundo melhor e mais justo. Sejam felizes.

 

Publicado em dnoticias.pt