As redes sociais e a democracia
As redes sociais são um fenómeno que, na minha opinião, veio para ficar. E se pensarmos bem no que elas significam, sabemos que dão muito jeito a vários níveis. Facilmente contactamos pessoas, em qualquer lugar do mundo. Sabemos notícias em cima da hora, e também descobrimos quem nos anda a enganar com plágios e outras coisas mais. Se nos sentirmos incomodados/as quando achamos que alguém não gosta do que escrevemos e está sempre a nos provocar, clicamos na palavra mágica, deixamos de ver essa pessoa e também deixamos de a incomodar.
Colocamos nas redes o que queremos, quando e como queremos. Ter cuidado deve ser a palavra a reter depois de sabermos que tudo está em escuta e que tudo pode ser utilizado, mesmo que quem as “comanda” diga o contrário. Desde há algum tempo que a minha participação está condicionada a esta forma de pensar, até porque há quem use o que postamos contra nós, em outros lugares, deturpando o que verdadeiramente levou a que, num dado dia e num dado momento, colocássemos um desabafo qualquer. Há muita gente à caça de “deslizes” para os usarem como argumento.
Num dado processo, coloquei um desabafo no meu mural que foi considerado o causador de desgraças alheias. Desde esse dia, muita coisa mudou e um desabafo passou a ser a arma de arremesso para justificar as fragilidades que continham acordos que foram contrariados, e começou a predominar o estigma da “má da fita”. O mais incrível é que a lista de seguidores dos que pensam desta maneira aumentou. Há realmente muita intolerância com as opiniões diferentes, sobretudo daquelas que não têm medo de dizer o que está mal. Há mesmo gente que odeia ouvir falar de problemas. Só gostam de receber os louros dos feitos, mesmo que sejam realizados por terceiros. Havia uma série brasileira que falava de “horror a pobre”, agora há “horror aos problemas”. Tudo tem que estar bem, e o que não está é negativismo pessimista, que “atrasa o desenvolvimento do cérebro”.
É por isso que é mais fácil falar com preocupação do que se passa no mundo, do que ligar ao que se passa à nossa volta. Mas tudo o que se passa neste mundo tem a ver com a nossa vida, e não precisamos de ir muito longe para ver que a intolerância, a arrogância, o desprezo pelas opiniões de quem não pensa da mesma maneira, a manipulação, a falta de lideranças populares democráticas, a regressão de muitos direitos conquistados com muito trabalho, luta e inteligência, a falta de memória da história das democracias e um verdadeiro trabalho de contacto permanente dos eleitos com os eleitores, estão a influenciar os resultados a que estamos a assistir um pouco por todo o lado, e também dentro da nossa zona de conforto. Há pessoas que pensam que é passando por cima das regras democráticas que vão chegar longe. Estão muito mal informadas. A história está aí para dizer-nos que nada dura para sempre e que tudo está em causa. Não há vitórias antecipadas. Os que ganham hoje, amanhã podem perder, e vice-versa.
publicado em Dnoticias.pt