João César das Neves

O economista João César das Neves, numa entrevista ao Jornal SOL, tece diversos comentários em relação à situação política actual e critica os partidos de esquerda porque “defendem os interesses das classes que lhe dão votos, como sindicalistas e pensionistas, pondo de lado os pobres que deveriam ser a sua prioridade.”

Mas então quem são os pobres? Apenas os sem abrigo e os arrumadores de carros? Ou serão os empresários? Parafraseando o meu camarada José Soeiro “Pobres dos Ricos”. E os que têm de sustentar uma família com um salário abaixo dos 600 € não são pobres? E os que usufruem de pensões de 300€ 400€ 500€ não são pobres?

Para o Senhor João César das Neves, Portugal ainda não saiu da crise. E se vem aí outra crise? Este e outros como ele gostam tanto de falar em crise, qual bicho papão em cima das nossas cabeças.

“As exportações têm puxado pela economia de forma espantosa...” Diz ele. E não são os trabalhadores que nas fábricas, nos campos, oficinas, escritórios trabalham afincadamente na produção de bens que depois são exportados? E não merecem os salários que ganham e serem aumentados em conformidade? Se a economia cresce, os salários também devem crescer.

Quando chegou a crise, estava tudo mal, cortou-se nos salários e pensões. Neste momento que a economia está a crescer, não podem aumentar salários e pensões porque pode vir outra crise.

Este senhor e mais uns tantos como ele deveriam apresentar ao público, obrigatoriamente, quanto ganham pelos trabalhos que fazem e logo veríamos quantos salários poderiam ser aumentados se eles não ganhassem vencimentos exorbitantes.

“Estamos outra vez a estimular ...o crédito à habitação...” Pois, para senhores como o Senhor César das Neves, a grande maioria do povo não deveria ter casa própria, como noutros tempos, para que os ricos tenham rendimentos chorudos com rendas de casas. Não lhes dá trabalho nenhum e no fim do mês entram os rendimentos. Mas nós sabemos que a nossa vida deu um salto em frente quando nos foi possível fazer um crédito num banco para pagar a nossa própria casa.

O senhor economista fala da crise, da conjuntura internacional, das bolhas, mas omite o pior de tudo: a corrupção, bancos afundados, milhões e milhões para os paraísos fiscais. Mesmo nos terríveis anos do mandato de Passos Coelho e Paulo Portas (PSD+CDS) sairam de Portugal muitos milhões para os paraísos fiscais, de forma legal e ilegal. Afinal, havia dinheiro! E muita gente ganhou bem com a crise e continua a ganhar, mas o Senhor João César das Neves deve achar isso normal. É o capitalismo a funcionar. Segundo o que está escrito no livro CRONOLOGIA do SÉC XX - AS GRANDES TENDÊNCIAS E AS GRANDES DATAS “ o capitalismo, caracterizado por uma procura sempre crescente do lucro, exigiu uma busca de inovação técnica e de ganhos de produtividade, e induziu um aumento contínuo da produção e do consumo.”

Como a vocação do capital é o lucro, a tendência é suprimir despesas, pagando o mínimo aos que produzem a riqueza para os capitalistas acumularem cada vez mais.

E daí vem a raiva contra as leis laborais para não haver regras e decerto gostariam que chegássemos ao sistema da Idade Média em que o Povo que trabalhava para os senhores ainda pagava impostos, enquanto que o Clero e a Nobreza não pagava nada a ninguém.

No final desta grande entrevista, o Senhor João César das Neves assume-se como cristão católico. Contudo, segundo os evangelhos, Cristo disse que mais depressa um camelo passaria no fundo de uma agulha que um rico chegaria ao Reino dos Céus. Noutra passagem do Evangelho, conta-se que Cristo teria pegado num azorrague e expulsou os vendilhões do templo.

 

Publicado em cartas do leitor Dnoticias.pt