Felicidade...

Estamos em Agosto, em plena época estival, a qual é por natureza propícia a reflexões mais intimistas. Neste pressuposto, pretendo aproveitar esta crónica veranil, não para dissertar sobre questões políticas, mas sobre algo que nos liga a todos, enquanto seres humanos: a procura e busca incessante pela Felicidade!

Senão vejamos:

Todos nós, de forma mais ou menos consciente agimos movidos por essa pretensão. Por essa razão, toda a conduta humana visa garantir a existência de condições na vida de cada um que promova esse desígnio. Começando na preservação da saúde, passando pela manutenção da harmonia familiar, continuando pela realização profissional, pela construção de relações afetivas que preencham e satisfaçam as necessidades sentimentais, pela prática de atividades desportivas, artísticas e afins, tudo isto no fundo não é mais do que uma estratégia individual para tentarmos ser felizes durante a nossa presença terrena. O problema é que muitas vezes, nestas nossas atitudes, não medimos as consequências que as mesmas têm nas pessoas que connosco privam mais de perto, seja em contexto familiar, afetivo, profissional ou organizacional. Estando nós integrados numa sociedade, todas as nossas ações inevitavelmente têm repercussões nos outros que nos rodeiam. Aqui reside o busílis da questão: como sermos felizes sem prejudicar esses terceiros, isto é, sem tornar infelizes os outros? Esta deveria ser sempre uma questão que deveríamos colocar a nós próprios, em muitas situações, antes de agirmos de determinada maneira. Exemplifico: seremos verdadeiramente felizes quando ao delinearmos um determinado objetivo, a sua prossecução só será possível espezinhando, humilhando, denegrindo e desrespeitando terceiros? Seremos felizes, quando através de uma relação afetiva com os outros, implementada de forma possessiva e sufocante, não deixamos o alvo do nosso afeto (que pode ser o nosso companheiro, filho, pai, mãe, irmão, amigo) viver a sua vida, com as suas escolhas, sem que isso represente para nós uma traição ao vínculo afetivo que tem para connosco? Muitas vezes quem é possessivo na forma como lida afetivamente com os outros, é o primeiro a rejeitar de forma bem clara e assertiva esse tipo de postura para consigo próprio. Por causa disso, esta postura acaba por se tornar contraproducente. Afasta cada vez mais de, quem através da possessividade quer ter por perto.

Chegado aqui, não resisto a partilhar com o leitor, um pequeno resumo do pensamento político de um filósofo iluminista. Trata-se de Jeremy Bentham, cidadão inglês que viveu entre 1748-1832 e preconizou tão simplesmente o seguinte: “todas as ações humanas devem ser orientadas para alcançar a maior felicidade do maior número”. Foi digamos o precursor da aplicação da filosofia utilitarista à Política. Nessa condição, relevou e enfatizou a importância da Felicidade individual e coletiva enquanto critério utilitarista norteador das decisões e escolhas políticas dos governantes. A utilidade seria assim o instrumento adequado para se decidir e agir politicamente. As medidas políticas mais justas e adequadas seriam assim todas aquelas que implicassem benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade e simultaneamente afastassem o prejuízo, a desvantagem, a dor, o mal, ou a infelicidade. Simples, não é? Infelizmente, constatamos que em pleno século XXI, esta conceção utilitarista, em tantos domínios, é desvirtuada, distorcida e mesmo contrariada em nome da satisfação de interesses minoritários, mas social, económica e politicamente mais fortes e poderosos. Recomenda-se assim aos atuais decisores políticos mundiais, uma (re)leitura dos ensinamentos deste filósofo iluminista.

Bom, caro leitor, agradecendo a sua paciência para me ler até aqui, não resisto a terminar esta minha breve reflexão com uma perspetiva mais brejeira sobre a Felicidade. Ei-la: na célebre música de Rita Lee, intitulada Amor e Sexo, é dito que “Amor sem Sexo é Amizade; Sexo sem Amor é Vontade”. Pois bem, complemento dizendo que Sexo com Amor é… Felicidade! Sejam Felizes!

 

 

Publicado em JM-madeira.pt