A luta dos professores

Os professores e professoras estão em luta porque as suas carreiras estão congeladas, ou seja, há nove anos que não são contados os anos de serviço para subirem de escalão, como previsto no Estatuto da Carreira Docente.

O Primeiro Ministro tenta conter os ânimos dos docentes dizendo que seriam necessários 650 milhões de euros para esse efeito e que o Orçamento de Estado não comporta. Vejam só o que tem sido subtraído aos professores! Ora bem, este argumento é o mesmo que foi usado no primeiro ano em que o Governo decidiu que as carreiras não podiam ser actualizadas: sempre a falta de dinheiro.

Ouvi um “comentadeiro” dizer na TV que, para actualizar as carreiras dos professores seriam necessários 600 milhões de euros, uma verba superior ao orçamentado para a área da ciência, da investigação... Mas será que alguém chega ao patamar da ciência e da investigação sem passar pelo 1º Ciclo, 2º Ciclo, 3º Ciclo e Secundário? Ou será que o edifício da EDUCAÇÃO começa no Ensino Superior e na Investigação? Não vale a pena tentar inverter a lógica da vida, porque todo o edifício se constrói da base para o topo.

Voltando ainda ao assunto da falta de dinheiro, será que foram os professores que endividaram o Estado? Foram estes profissionais que afundaram bancos, se envolveram nos negócios dos submarinos, das Tecnoformas e afins?

Na RAM, tivemos as escolas públicas sem o mínimo necessário, em que os telemóveis dos professores supriam os telefones cortados, em que era pedido aos pais uma verba para comprar papel para as fichas e cada um levava papel higiénico na algibeira para o seu uso. E todos nós sabemos que não foram os professores que criaram as Sociedades de Desenvolvimento (esbanjamento), não foram os professores que decidiram meter cimento e mais cimento na orla do mar do Lugar de Baixo para as ondas engolirem, não foram os professores que mandaram construir a Praça do Mar com um hotel para o Senhor Pestana. Não foram os professores que fizeram um cais de acostagem onde não encostam barcos. Só para falar destas grandes obras de encher o olho.

Portanto, não é justo castigar os professores por actos que não são da sua responsabilidade. Com o dinheiro mal gasto poderíamos ter feito hospitais e muitas outras obras sem estarmos a pagar juros de uma dívida sem necessidade. Aprendam a gerir os dinheiros públicos, a estabelecer prioridades e não ceder aos “monstros económicos” que, como diziam os meus avós, são como carrapatos que nunca estão fartos.

A economia do país melhorou porque o governo foi obrigado a afastar-se dos grandes “comilões” e a estabelecer prioridades. E, se a economia está melhor, pelo menos agora se faça justiça e não se esfole mais quem já muito amargou por causa da crise financeira que alguns criaram. Mas não é esse caminho que está a ser trilhado, os trabalhadores são sempre os explorados, ganham cada vez menos, porque é no valor do trabalho que se corta. Até um organismo da UE já se pronunciou sobre o fraco valor que é pago pelo trabalho em Portugal.

Os professores estão em luta e vão vencer. Porque são muitos, a maioria está unida e a razão está do lado deles e delas. Em frente que o Mundo não pode parar.

(Publicado originalmente aqui)