"Para o PSD/Madeira, o sucesso é a especulação imobiliária”

No comício de encerramento da campanha para as eleições regionais do próximo domingo, Roberto Almada apelou ao voto no Bloco como a alternativa para haver uma oposição forte que defende quem trabalha e quem quer ter uma casa para viver na Madeira.

Mariana Mortágua esteve presente esta sexta-feira no encerramento da campanha para as eleições regionais da Madeira para expressar “orgulho” numa campanha que foi “a prova que há aqui gente que não desiste da sua terra, que não desiste de uma ideia radical: de que a Madeira possa ser uma casa para os seus, para quem aqui trabalha”.

Mas a sua intervenção foi também ocasião para criticar quem tenha desistido disto. A coordenadora bloquista lembrou que no debate sobre habitação na Assembleia da República desta quinta-feira houve uma deputada do PSD Madeira que pediu a palavra para apresentar duas propostas. Em vez de falar “dos preços das casas no Funchal”, “dos jovens que emigram porque não conseguem pagar uma renda”, de mostrar “que se preocupa com as casas sem saneamento, sem condições, com as pessoas despejadas” preferiu preocupar-se com os Vistos Gold e o Alojamento Local. Assim, afirma, “os proprietários, os não residentes ricos, os russos que precisam da Madeira para lavar o seu dinheiro, são eles que o PSD representa”. Tanto no parlamento nacional quanto no parlamento regional, defende.

Sobre isto, Mariana Mortágua trouxe ainda à baila as palavras do atual presidente do Governo Regional que disse que “todos sabem como em toda a ilha nunca tivemos tanto investimento, tanta casa a construir, tanto alojamento a ser construído para residentes estrangeiros, nunca se vendeu tão caro tantos terrenos e nunca se venderam casas como agora”. Prova para ela que “estão obcecados, com a euforia milionária do imobiliário, com a elite, com o privilégio, com os negócios loucos que dão tanto a ganhar a um punhado de gente”.

Estas palavras são sentidas como uma forma de descaramento e de impunidade “para virar a cara ao povo”. A dirigente partidária classificou como “traição” o que faz um “governo que abandonou o povo para ser o representante dos interesses dos poderosos, da elite, dos especuladores" e que assim “traiu a Madeira e os madeirenses”.

E mais exemplos apresentados sobre isso são os “30% de pobreza”, o Funchal ser “a terceira cidade mais cara do país”, “os fundos comunitários desperdiçados em negócios fantasma para enriquecer grupos económicos”, os “ataques ambientais, falta de transportes públicos, IVA no máximo, IRC no mínimo para as grandes empresas”.

“A voz do PSD Madeira só se ouve a defender especuladores, Vistos Gold", enquanto os outros partidos de direita “têm tudo em comum com o programa do PSD exceto uma coisa que não têm mas querem: lugar no governo", prosseguiu Mariana Mortágua, concluindo que a alternativa é a voz do Bloco “que nunca se calou perante o abuso e o privilégio”.

O PSD/Madeira é “um desastre que tem de ser travado”

E essa voz materializa-se na do cabeça de lista do Bloco a estas eleições, Roberto Almada, que contrasta a posição do Bloco de Esquerda que “está neste combate eleitoral para exigir justiça e respeito por quem trabalha” com a de “quase meio século de governo do PSD impuseram na Madeira um regime de compadrio e uma economia de desigualdade”.

O candidato procura desmascarar “a propaganda do governo” regional que “repete” que há sucessos na economia, “mas quem aqui vive não sente nenhum sucesso: os salários não chegam ao fim do mês, os serviços públicos estão degradados, arranjar uma casa que se possa pagar só por milagre”.

O sucesso de que fala Miguel Albuquerque é assim para “uma mão cheia de amigos e milionários que fazem o que querem da Madeira”. E o presidente do Governo Regional até o terá confessado nos seus comícios em que “repetiu para o PSD o sucesso é a especulação imobiliária” enquanto “quem trabalha na Madeira desespera por não encontrar uma casa que possa pagar”.

A situação da Região é portanto qualificada como um “roubo”, sendo disso exemplo os salários baixos e pensões de miséria “numa região que quebra recordes no turismo e tem superavite nas contas públicas” e que “o imposto sobre os lucros dos grandes negócios sejam mínimos e o IVA no supermercado seja máximo”. Todo um modelo económico “que destrói o ambiente e a saúde, que empurra os mais jovens para a emigração” que “é um desastre que tem de ser travado”.

Também para Roberto Almada, os outros partidos à direita “são aliados dos tubarões imobiliários e da economia dos baixos salários” e “querem ir para o governo”. Já o PS, “que de socialista só tem o nome”, “fica sempre calado” quando estão em causa os tubarões que mandam na Região”.

Um “regime podre” que promove desigualdade e redes clientares

Dina Letra, a coordenadora do Bloco de Esquerda da Madeira, tomou a palavra para reforçar estas ideias, distinguindo “a Madeira real” da “ilha das maravilhas da propaganda do PSD Madeira e de Miguel Albuquerque” que tiveram 47 anos de maiorias absolutas com “políticas promotoras de desigualdade” em que “promoveram uma rede clientelar de elites de privilégio mas também de dependência”.

A dirigente regional bloquista afirma que estas políticas “estão a vender a nossa terra a estrangeiros ricos mas desprezam quem trabalha e constrói a riqueza da nossa região todos os dias” e que face ao “regime podre do PSD e suas políticas liberais de direita” é “urgente” a mudança.

A campanha pela “economia justa” contra a “campanha vergonhosa”

E Catarina Martins também insistiu no contraste entre duas campanhas. Uma “vergonhosa”, a do PSD Madeira, “das casas caras como se quisessem dizer sucesso na Madeira, de quem diz que se os jovens não arranjam emprego de jeito é porque são preguiçosos, de quem até disse que os madeirenses não têm nada que ter um parque de campismo em Porto Santo porque não têm nada que ter direito a férias, de quem usou o dinheiro dos madeirenses para uso do partido”.

E, por outro lado, a do Bloco, a “de quem esteve pelo direito à habitação, quem sabe e acredita que os jovens podem aqui viver melhor, tenhamos uma economia mais justa, campanha pelo emprego, pelo ambiente, pela responsabilidade, contra a política do desastre da direita”.