Se Antonoaldo ofendeu a nossa inteligência, o PSD-M ofende muito mais.
O Presidente da TAP é hoje o bode expiatório dos problemas da mobilidade aérea da Madeira, é o alvo de todas as críticas e frustrações pelos preços estratosféricos e demais problemas. Antonoaldo Neves pôs-se a jeito com afirmações que ofendem a nossa inteligência, como a dos preços serem módicos, merece toda as críticas com que tem sido brindado, mas ele cumpre o seu papel de gestor, defende os interesses de quem lhe paga, os acionistas, dentro do quadro legal criado pela liberalização.
Apontar-lhe o dedo não vai fazer baixar os preços, insultá-lo não vai reduzir a incidência de cancelamentos, o problema não se chama Antonoaldo, chama-se liberalização. A TAP cumpre a lei do mercado e aqui é que reside o problema, o mercado não nos serve e dez anos bastam para concluir isso.
A liberalização não trouxe a concorrência e os baixos preços como prometia, por causa das caraterísticas próprias do nosso aeroporto que o tornam pouco atrativo. A ANA reconhece isso e as companhias aéreas também. A situação é agravada pelo congestionamento do aeroporto de Lisboa e pelo subsídio de mobilidade em vigor, que anula a diferença de preços para o passageiro – anula a possibilidade de concorrência entre companhias.
Mas quem decidiu a liberalização em 2008 – o Governo Regional do PSD, apoiado por PS e CDS e mais tarde JPP – não enxerga a realidade, não quer reconhecer o erro e tenta remediar em vez de resolver. A indignação e o rol de acusações contra a TAP e o seu presidente são de uma grande hipocrisia: O PSD vem agora exigir que a TAP cumpra obrigações de serviço público que não existem, quando foi o próprio PSD que desobrigou a companhia? Se Antonoaldo ofendeu a nossa inteligência, o PSD-Madeira ofende muito mais.
A ideia de negociar com uma terceira companhia, de lhe pagar ajudas para vir fazer concorrência é em sí a negação da liberalização e o reconhecimento que o mercado não funciona: se o mercado é livre e funciona o Estado não tem de intervir; se o Estado tem de intervir, então que seja através da imposição de obrigações de serviço público, para bem dos passageiros e não para bem dos lucros dos donos das companhias. Concorrência com ajuda do Estado é uma fraude.
Outros aspetos críticos da linha Madeira - continente são a sazonalidade e a rigidez da procura: em certas alturas do ano há muita gente disposta a viajar quase a qualquer preço. As companhias de baixo custo – as que se pretende atrair para a Madeira – vão reagir a esse aumento da procura com subida dos preços, pois não têm na sua frota aviões disponíveis para aumentar o número de lugares. Essas companhias conseguem baixos custos porque fazerem uso intensivo dos seus recursos, mormente dos aviões.
Culpar Antonoaldo é como culpar a raposa por comer as galinhas, sem enxergar que a culpa foi de quem lhe abriu a porta do galinheiro. Insistir na liberalização é teimar em não fechar a porta, depois de todas as consequências.