Reformas solidárias e mais justas
Ou estou a ficar mais sensível com o tema, ou ultimamente muito se tem falado na terceira idade, termo dirigido às pessoas com mais de 65 anos. Se tem mais do que 65 anos tem mais probabilidades de ter AVCs, enfartes, artroses, diabetes, colesterol elevado, cancro, etc....
São entrevistas de agentes da saúde. São campanhas publicitárias. Uma delas chega mesmo a afirmar “com mais de 35 anos perdemos cálcio e os ossos partem-se”! Tratam as pessoas como iguais. Tem mais de 65 está tramada, tudo lhe pode acontecer. Às vezes parece que estamos a ver um filme de terror.
O engraçado é que para as pessoas terem direito à sua reforma, sem perda de dinheiro, esta idade já não conta, porque todos os anos vão aumentando a “chamada” esperança de vida, e a idade da reforma vai aumentando, estando nesta altura em 66 anos e seis meses. Muitas pessoas, que já descontaram toda uma vida de trabalho, algumas com mais de 40 anos de descontos, arrastam-se à espera que o dia chegue. Conheço muitas que nunca tiveram direito a esse dia e outras que pouco gozam o direito a descansarem de verdade.
Uma das coisas grandes de abril foi o sistema solidário da segurança social. Poder o Estado comparticipar as chamadas “reformas não contributivas” para pessoas que nunca tiveram a oportunidade na vida de ter um trabalho remunerado. Esta solidariedade é um dos pilares da nossa democracia social.
É pouco. Sempre foi pouco, mas quem nunca teve nada representa muito e não lhes deve ser retirado o direito. Se muitas pessoas passaram a sua vida a descontar e nunca usufruíram desses descontos, ajudaram a que estas pessoas possam ter um apoio solidário. É assim que devemos encarar esta solidariedade, legislada, como um direito e não uma esmola, como muitos/as gostam de chamar.
Falar da reforma que as pessoas têm direito como uma coisa que tem que acabar, porque o Estado vai à falência, é pura e simplesmente não perceber nada do que está em causa, é não perceber que, se a segurança social tem menos receitas, é porque existem muitas pessoas desempregadas, sem oportunidade de fazer descontos. É não perceber que existem grandes dívidas, por parte de muitas empresas, cujo dinheiro faz muita falta nas receitas da segurança social.
Eu ainda acredito que o Estado tem condições para continuar a ser solidário e todas as pessoas que descontam têm o direito à sua reforma, que deveria ser atribuída para quem tem 65 anos ou 40 anos de descontos. Continuo a considerar que a pensão mínima de reforma deveria ser igual ao salário mínimo. Acredito que um dia isto vai ser possível.