Os horários da Função Pública

Bastou que alguém se atirasse aos horários da F.P. de forma, digamos, pejorativa, para que o tema se espalhasse e com ele vão branqueando a malvadez de quem anda a querer convencer a juventude e outros mais velhos que devem aceitar qualquer trabalho sem olhar a horários e a outras condições de trabalho, que até podem ser voluntários e apenas ganharem experiência. Este fala como um patrão ou um governante patrão, pior que muitos empresários que respeitam quem trabalha.

E como dizem os brasileiros, vou direita ao ponto: qual é o problema em haver funcionários públicos com horários da nove às cinco? É uma boa referência para os restantes trabalhadores. Também há trabalhadores no sector privado com horários desses ou parecidos. Onde está o mal? No DN de 2/4/2018, alguém escreveu o seguinte numa carta do leitor: “Confundir o funcionalismo público, preguiçoso e improdutivo, com a vida dos profissionais nas empresas é prova de ignorância...” E eu nem sequer sei se este senhor, que assina José Sabino de Freitas é um bom trabalhador. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas quando pessoas dessas precisam de um serviço público gostam de ser atendidas por um funcionário público; vão deixar os filhos à escola e lá estão auxiliares de educação e professores/as para tomar conta deles, educá-los e instruí-los. E por vezes aturarem a má educação que levam de casa; vão aos Centros de Saúde, Hospitais e outros lugares e são atendidos por funcionários públicos.

É verdade que por vezes não somos atendidos como merecemos, é certo, mas são excepções, como no sector privado. Eu já fui mal atendida em lojas comerciais e até numa farmácia, num momento em que estava angustiada com doentes em casa à minha espera. Mas isto não é a regra. Geralmente sou bem atendida, tanto no público como no privado.

Mas voltando aos horários da Função Pública, atenção que muitos destes trabalhadores não entram às 9h para sairem às 5 da tarde. Há trabalhadores de piquete durante a noite, às 7h da manhã já vemos trabalhadores camarários a limpar as ruas do Funchal, se chegarmos às escolas de manhã cedo já estão funcionárias/os a limpar as salas para que recebam alunos e alunas às 8h ou 8h 30 m. E quantos professores e professoras se levantam de madrugada para chegarem às escolas a tempo e horas?

Quando eu trabalhava em Machico, apanhava camionete às 6h 30m da manhã, chegava ao Senhor dos Milagres às 7h 30m e fazia o resto a pé para começar as aulas às 8h. E, na melhor das hipóteses, chegava a casa para almoçar às 15h, quando não tinha actividades pela tarde e às vezes à noite. Quando trabalhava no Estreito de Câmara de Lobos, era um pouco mais perto, mas algumas vezes nem tinha hora para almoço

E os profissionais de saúde que cuidam dos doentes de dia e de noite? Haja decência e respeito por quem trabalha. Mas as pessoas que se atiram contra trabalhadores e muitas vezes não passam de uns pés de chinelo, não ousam revoltar-se contra aqueles “grandes senhores” que vão ao escritório ou ao banco assinar o ponto, levam para a sua conta bancária grandes somas e quando deixam esses “empregos” são agraciados” com certas reformas ou compensações que chegava para distribuir por milhares de pobres que mal ganham para sobreviver. E são esses que metem bancos ao fundo, arrombam empresas e fogem com o dinheiro para os paraísos fiscais, deixando o nosso país cada vez mais pobre.

 

Carta do leitor, publicado em Dnoticias