A luta dos professores
O Primeiro Ministro tenta conter os ânimos dos docentes dizendo que seriam necessários 650 milhões de euros para esse efeito e que o Orçamento de Estado não comporta. Vejam só o que tem sido subtraído aos professores! Ora bem, este argumento é o mesmo que foi usado no primeiro ano em que o Governo decidiu que as carreiras não podiam ser actualizadas: sempre a falta de dinheiro.
Ouvi um “comentadeiro” dizer na TV que, para actualizar as carreiras dos professores seriam necessários 600 milhões de euros, uma verba superior ao orçamentado para a área da ciência, da investigação... Mas será que alguém chega ao patamar da ciência e da investigação sem passar pelo 1º Ciclo, 2º Ciclo, 3º Ciclo e Secundário? Ou será que o edifício da EDUCAÇÃO começa no Ensino Superior e na Investigação? Não vale a pena tentar inverter a lógica da vida, porque todo o edifício se constrói da base para o topo.
Voltando ainda ao assunto da falta de dinheiro, será que foram os professores que endividaram o Estado? Foram estes profissionais que afundaram bancos, se envolveram nos negócios dos submarinos, das Tecnoformas e afins?
Na RAM, tivemos as escolas públicas sem o mínimo necessário, em que os telemóveis dos professores supriam os telefones cortados, em que era pedido aos pais uma verba para comprar papel para as fichas e cada um levava papel higiénico na algibeira para o seu uso. E todos nós sabemos que não foram os professores que criaram as Sociedades de Desenvolvimento (esbanjamento), não foram os professores que decidiram meter cimento e mais cimento na orla do mar do Lugar de Baixo para as ondas engolirem, não foram os professores que mandaram construir a Praça do Mar com um hotel para o Senhor Pestana. Não foram os professores que fizeram um cais de acostagem onde não encostam barcos. Só para falar destas grandes obras de encher o olho.
Portanto, não é justo castigar os professores por actos que não são da sua responsabilidade. Com o dinheiro mal gasto poderíamos ter feito hospitais e muitas outras obras sem estarmos a pagar juros de uma dívida sem necessidade. Aprendam a gerir os dinheiros públicos, a estabelecer prioridades e não ceder aos “monstros económicos” que, como diziam os meus avós, são como carrapatos que nunca estão fartos.
A economia do país melhorou porque o governo foi obrigado a afastar-se dos grandes “comilões” e a estabelecer prioridades. E, se a economia está melhor, pelo menos agora se faça justiça e não se esfole mais quem já muito amargou por causa da crise financeira que alguns criaram. Mas não é esse caminho que está a ser trilhado, os trabalhadores são sempre os explorados, ganham cada vez menos, porque é no valor do trabalho que se corta. Até um organismo da UE já se pronunciou sobre o fraco valor que é pago pelo trabalho em Portugal.
Os professores estão em luta e vão vencer. Porque são muitos, a maioria está unida e a razão está do lado deles e delas. Em frente que o Mundo não pode parar.
(Publicado originalmente aqui)