Futuro do BE-Madeira…
No próximo dia 4 de março de 2018 ocorrerá a VII Convenção Regional do BE-Madeira. Nela será eleita uma nova direção e será delineada a estratégia que o partido implementará no biénio 2018-2020. Neste período existirão eleições legislativas para a Assembleia da República (AR) bem como para a Assembleia Legislativa da Madeira (ALRAM). A nova direção assumirá o partido num cenário onde o mesmo tem um deputado eleito pelo círculo eleitoral da Madeira na AR, dois deputados na ALRAM e dezanove autarcas nos órgãos autárquicos do concelho do Funchal. Este é o ponto de partida que servirá de base a todas as análises e avaliações que se deverão efetuar a partir dessa data à atuação da nova direção.
Não obstante, tal não invalida que no momento presente todos os aderentes devam refletir sobre o percurso de BE até agora e perspetivar o futuro.
Assim, uma primeira referência ao facto de o BE ter de adotar uma postura de moderação se quiser ser um partido de referência nacional. Julgo aqui que o que prevalece é uma perceção de que os radicalismos não serão compatíveis com responsabilidades governativas. Efetivamente, foi quando Catarina Martins fez um desafio realista e não radical a António Costa, mostrando disponibilidade para uma convergência que o BE obteve a sua maior votação de sempre.
Este aumento do peso e força do BE tem sido fulcral para a adoção de medidas governativas que se têm traduzido numa viragem à esquerda. Não é a viragem ideal, mas é uma viragem que tem rompido com alguns aspetos da política de direita do anterior governo.
Na sequência desta conjuntura, o País vê-se confrontado com a possibilidade do PS obter maioria absoluta nas próximas legislativas nacionais. Qual deve ser a resposta do BE? Simples: enfatizar que as medidas de esquerda adotadas só foram tomadas precisamente porque o BE conseguiu obrigar o PS a adotá-las. Daí ser necessário reforçar a influência do BE e não dar maioria absoluta ao PS. Julgo que o BE não se deve arrepender de ter propiciado a Geringonça, mesmo que a mesma resulte numa maioria absoluta do PS. Se essa maioria acontecer, então o nosso radicalismo deverá ser proporcional ao radicalismo das medidas de direita que venham a ocorrer.
Indo agora ao BE-Madeira. Uma das críticas apontadas à sua atual direção consiste em referir que a mesma está cristalizada. O que se entende por cristalização? Ter o mesmo coordenador desde 2008? Então o que se deve dizer do período de liderança do anterior, que veio desde 1974? Importante é avaliar não a duração da liderança, mas sim se a mesma deve continuar e/ou se tem alternativas capazes e competentes para “aguentar o barco”. Recordo que nestes últimos 10 anos, nenhuma alternativa credível se chegou à frente, portanto acusar a liderança atual de cristalização é no mínimo injusto, até porque o atual coordenador já se viu obrigado a concorrer porque precisamente ninguém credível avançou. Agora em 2018, tudo indica que já não será assim. Pois bem, havendo outras opções com capacidade, essas naturalmente devem avançar. O que eu desejo é que essa legítima e salutar vontade seja exercida dentro dos limites éticos e de uma sã camaradagem que pressupostamente deverá existir no seio de um partido que se diz de esquerda. Digo isto porque me faz confusão que para se chegar à liderança, não se tenha pejo em denegrir quem lidera e muitas vezes distorcer determinadas decisões políticas tomadas, usando e abusando de uma perfeita e dispensável desonestidade intelectual. (o caso do voto contra do BE a um voto de protesto apresentado pelo CDS na ALRAM é bem exemplificativo dessa desonesta argumentação que tem sido usada para criticar o nosso posicionamento. Mesmo depois de se ter explicado com razões válidas o nosso sentido de voto, continua-se a criticar o mesmo obliterando as razões por nós aduzidas, que não têm nada a ver com um hipotético apoio a Costa ou ao PS).
Há quem apele à renovação dos quadros dirigentes. Muito bem, venha essa renovação. Nunca foi criado nenhum obstáculo a que a mesma se fizesse desde 2004. Aliás, ainda continuo por perceber por que razão, alguns quadros válidos saíram do BE. Ninguém os excluiu, foram aproveitados politicamente nas nossas listas e certamente tendo continuado no partido seriam mais-valias no nosso projeto. Faço votos para que novos quadros entrem e propiciem o fim da dita “cristalização”.
Para esse fim darei o meu contributo: não farei parte da nova coordenação e cumprirei até ao fim os mandatos para os quais fui eleito, respeitando deste modo a confiança que os eleitores em mim depositaram. Termino com a postura que o BE deverá adotar até às regionais de 2019: em dois anos muita coisa vai acontecer e, portanto, deveremos ser prudentes na definição da estratégia no sentido de não fechar portas a diferentes modos de atuação. Uma coisa é certa: nas próximas regionais será a primeira vez que o PSD está mais fragilizado e com possibilidade de não obter maioria absoluta. Nesse pressuposto, mais do que uma estratégia é possível. Tenha o BE a lucidez para não descartar nenhuma.
Publicado na edição impressa e digital do JM Madeira de 27/11/2017