Convenção Nacional do BE – Parte II

Na sequência da minha última crónica publicada no JM, onde abordei questões políticas nacionais a serem discutidas no âmbito da próxima Convenção Nacional do BE (10 e 11 de novembro), abordarei agora questões regionais.

Na Moção A, intitulada “Um Bloco mais forte para mudar o País”, a qual tem como principais proponentes e redatores Catarina Martins (Coordenadora Nacional do BE), Pedro Filipe Soares (Líder Parlamentar na AR) e Marisa Matias (Eurodeputada), e foi subscrita por mim, está incluído o seguinte capítulo relativo à Madeira:

“13. NAS ELEIÇÕES REGIONAIS DA MADEIRA, A CRIAÇÃO DE ALTERNATIVA À ESQUERDA DEPENDE DO REFORÇO DO BLOCO DE ESQUERDA.

A Madeira permanece uma das regiões mais desiguais e com maiores índices de pobreza do país. O governo regional, incapaz de responder à crise social e económica da região, esconde-se na estafada responsabilização do governo da República para esconder a sua inação e subserviência aos interesses económicos instalados na região.

O PSD de Miguel Albuquerque está enfraquecido e, pela primeira vez, é possível retirar a direita do governo. O PS decidiu candidatar Paulo Cafôfo, que ganhou a Câmara Municipal do Funchal numa coligação em que o Bloco participa desde a primeira hora. A escolha do PS-Madeira passa por uma candidatura estritamente partidária e cujo programa se alinha com os interesses económicos dominantes na Madeira, sendo coordenado pelo administrador de um importante grupo privado da região. Um governo do PS, a sós ou com o CDS, estaria limitado a uma alternância incapaz de romper com os setores rentistas e a promiscuidade entre público e privado que marcam o atraso da região.

Só o crescimento do Bloco de Esquerda pode garantir uma alternativa política na Madeira. O Bloco apresenta-se às eleições regionais da Madeira com um programa centrado no combate à corrupção e ao rentismo e nas respostas sociais e económicas urgentes para o combate à pobreza e à precariedade.”

Na qualidade de subscritor da referida Moção, apresentei a seguinte proposta de alteração ao teor deste capítulo, a qual foi rejeitada:

“O PSD de Miguel Albuquerque está enfraquecido e, pela primeira vez, é possível retirar a direita do governo. Neste pressuposto, esta possibilidade deve ser enfatizada e relevada pelo Bloco em toda a sua estratégia de ação e comunicação até às eleições regionais. Para tal, é fundamental centrar o foco em dois alvos: por um lado apresentando e divulgando as nossas propostas diferenciadoras, acentuando a sua imprescindibilidade para a inversão e derrube efetivo e concreto da política de direita protagonizada pelo PSD. Por outro lado, desmascarar e descredibilizar a inação governativa do PSD-Madeira, apontando as suas falhas, falácias e incumprimentos. Só deste modo, estará o Bloco a contribuir decisivamente para a criação das condições para a concretização do cenário de retirada da direita do poder governativo da RAM.

Só assim com esta postura, é que o crescimento do Bloco de Esquerda pode garantir uma alternativa política na Madeira. (…).”

Fiz esta proposta de alteração, pela seguinte razão: nesse capítulo é referido, e bem, que o PSD de Miguel Albuquerque está enfraquecido e, pela primeira vez, é possível retirar a direita do governo. No entanto, na sequência desta correta afirmação, são tecidas considerações que atacam objetivamente quem politicamente é a única causa da fragilidade acima referida. E ao fazê-lo, ficamos numa posição ambígua e dúbia. Se por um lado reconhecemos e antevemos que o PSD pode perder e sair do governo, por outro criticamos quem está a contribuir para essa perceção. Ressalta assim imediatamente a seguinte incongruência: como se pode afirmar que é possível retirar a direita do Governo, atacando e acusando de imediato e politicamente quem poderá efetuar esse desiderato, de pretender manter o mesmo tipo de políticas? Afinal, pelos vistos, a direita não vai ser retirada do poder. O que se está a afirmar é que vão ser outros protagonistas a implementar políticas de direita.

Lamentavelmente, esta minha proposta não foi acolhida, ficando assim plasmada na Moção que irá ser aprovada uma posição politicamente incongruente, que em última instância só beneficia…o PSD!!!

 

Publicado em JM-noticias.pt