Um porta-contentores não substitui o ferry
Foi anunciado hoje o início do transporte de passageiros em navio porta-contentores desde o Caniçal para Leixões de depois até Lisboa, pelo grupo Sousa. O tempo da deslocação até a capital será de 52 horas a que acresce o tempo das operações de carga e descarga no porto de Leixões, a capacidade é de sete passageiros.
É uma fantochada para depois vir dizer que não se justifica haver ferry o ano inteiro, pois já existe transporte marítimo de passageiros. Este grupo que detém a concessão do porto do Caniçal, da ligação marítima ao Porto Santo e um quase monopólio no transporte de carga para o continente, por obra do PSD-Madeira, sempre se opôs à existência de uma operação ferry, em nome dos seus interesses e contra os da população.
Um porta-contentores não substitui um ferry: a capacidade (sete passageiros) é ridícula; o tempo de viagem é quase o dobro do ferry até Portimão; a estabilidade do navio, que não foi concebido para o transporte de passageiros, torna a viagem muito mais tempestuosa. A utilidade do ferry não se esgota nos passageiros, tem vantagem nas mercadorias como os produtos frescos, pois a viagem e o tempo de carga e descarga são bem mais curtos, ou os automóveis.
Em nome do interesse público o Bloco de Esquerda continua a defender a existência de uma linha ferry entre a Madeira e o continente durante o ano inteiro e desafia os demais partidos, em particular os que apresentam ambição de governar a Região, de se comprometerem com a defesa do interesse geral da população e a combaterem os monopólios.
O PSD e o PS tem defendido maior concorrência nas ligações aéreas para a Madeira, mas não enxergam a situação de quase monopólio no transporte marítimo de carga que decorre da concessão do porto do Caniçal e encarece a vida a todos os madeirenses. Esses partidos terão receio de beliscar os interesses do grupo económico que domina o negócio da carga marítima e explora o porto do Caniçal? Pretendem defender o interesse público ou os interesses privados?
O ferry também contribui para aumentar a concorrência no negócio do transporte marítimo de carga.