Ser resiliente é fazer acontecer

Nas eleições para a Assembleia da República, estou convictamente a apoiar a eleição de um deputado do BE

Ando há muitos anos na militância cívica e política. Já vivenciei muitas coisas. Já assisti a muitos resultados. Já chorei de alegria e de tristeza. Vivi momentos ímpares e únicos dos quais me orgulho muito em ter participado. Já vi o Bloco de Esquerda não conseguir eleger mais do que um deputado, quando a UDP tinha dois, depois não eleger nenhum e quatro anos passados eleger um grupo parlamentar e, agora, voltar a não ter representação parlamentar. É uma tristeza, claro que é. Sempre foi uma tristeza quando não conseguimos, que, quem vota, sinta que temos utilidade para fazer a mudança que tanto ambicionamos.

Há muitas responsabilidades internas, claro que há, e têm que ser devidamente, e a seu tempo apuradas. Mas há muita hipocrisia, ou talvez não... Depende do ponto de vista, de quem agora na campanha para a Assembleia da República, todos os dias, nos diz: “se sabia que o partido ‘tal’ não ganhava, tinha votado no Bloco”. “Se sabia, não tinha ido atrás de tudo o que nos disseram, desta ou daquela pessoa, porque a voz do Bloco vai fazer falta no Parlamento”. Pessoas que reconhecem a nossa mais-valia no trabalho e na intervenção política, e que vão nos ajudar no que estiver ao seu alcance. Que querem continuar a contar com o nosso apoio, até porque sabem que nos outros não podem confiar. Que o Bloco de Esquerda fez um trabalho fundamental na recuperação dos direitos que a direita tinha retirado aos portugueses. Etc, etc,... E podia estar a desfilar um rosário de frases que todos os dias ouvimos nas ruas por onde andamos. Acredito que há muita verdade em algumas das pessoas que, ironicamente, votaram em outros partidos, mas queriam que o Bloco tivesse eleito deputados/as.

Sei que, em todas as decisões, há sempre razões que movem os atos das pessoas. Sei que a vida não é linear e que, por vezes, há razões que a própria razão desconhece. Aprendi a ser resiliente, a não desistir e não me deixar desmotivar de continuar a fazer o que puder para continuar a agir conforme a minha consciência, dando a opinião que achar mais conveniente sobre a política e a sua evolução. Participar nas ações cívicas que forem ao encontro ao que defendo, com toda a liberdade, sem aceitar condicionamentos, venham eles de onde vierem.

Nestas eleições para a Assembleia da República, estou convictamente a apoiar a eleição de um deputado do Bloco de Esquerda pelo Círculo Eleitoral da Madeira. Tenho a certeza que será uma voz que, na Assembleia da República, defenderá as reivindicações autonómicas que sejam melhores para a Madeira e estará ao lado dos/as que não querem revisões gravosas nas leis. Como o que aconteceu nesta legislatura, onde o PS e o PSD aprovaram, entre outras coisas, que um/a jovem possa estar a trabalhar numa empresa, durante seis meses, em período de experiência, sem contrato e sem quaisquer direitos legais. Espero bem que o pedido feito pelos partidos da Esquerda ao Tribunal Constitucional tenha desenvolvimento positivo, e que essas alterações voltem e ser apreciadas pelo novo Parlamento que sair destas eleições.

Fazer Acontecer coisas novas e positivas para as nossas vidas está sempre nas nossas mãos. Sejamos capazes de as concretizar é o meu maior desejo. Basta votar certo sem depois vir a se arrepender.

(publicado no DN-Madeira a 1 /10/2019)