Quem [não] quer dividir os madeirenses?

A política é fazer escolhas e em cada opção feita há uns que vão ganhar e outros perder, é impossível satisfazer a todos, não há escolhas neutras.

A descida do IRC que o PSD fez no orçamento de 2019 beneficiou quem? Beneficiou as empresas que dão maiores lucros – as grandes empresas e os seus acionistas. As pequenas empresas e os contribuintes individuais não foram afetados.

A descida do IMI muito reclamada pelo CDS, beneficia quem? Em primeiro lugar os grandes proprietários imobiliários. Uma variação de 0,05% no IMI corresponde a 50 Euros por ano numa casa avaliada em 100.000, mas para um proprietário de um grande património, pode significar muitos milhares de euros.

A concessão do porto do Caniçal e da ligação ao Porto Santo ao grupo Sousa permitiu-lhe ganhar uma dimensão nacional, com os lucros milionários que são suportados por todos nós, através de viagens mais caras ao Porto Santo e de um sobrecusto do nível de vida devido aos fretes excessivos do monopólio no transporte de mercadorias.

As concessões rodoviárias, Via Litoral e Via Expresso, geram lucros operacionais de 80 milhões por ano para os privados, os empreiteiros do regime, o valor que pagamos acima do custo da manutenção das vias concessionadas, 80 milhões que faltam na saúde e na educação, vão parar aos bolsos dos privados. Dava para um Savoy por ano, ou para um novo hospital em quatro anos.

Perante estas injustiças escandalosas vamos fingir que elas não existem (para não dividir os madeirenses), ou vamos procurar corrigir estes privilégios absurdos e incomodar os seus beneficiários?

A neutralidade perante uma injustiça é uma cobardia. Não corrigir as graves injustiças criadas por 40 anos de governos PSD, para evitar dividir os madeirenses, é uma grande covardia, é fechar os olhos às injustiças, é não querer mudar.

Como é possível não tomar partido num conflito entre grupo Sousa e os estivadores? Como ficar neutro perante a reivindicação de melhores salários e de segurança no emprego das trabalhadoras da Serlima ou os da hotelaria? O PSD sempre protegeu os patrões, o lado mais forte. A coragem para mudar é a coragem para tomar o partido do lado mais frágil, pelos trabalhadores. Sem criar divisões não há mudança possível.