Haverá fome na Madeira?!

Na passada semana, num dos debates ocorridos na Assembleia, o vice-presidente do governo regional afirmou que “não há fome na Madeira”.

Esta afirmação de Pedro Calado contrasta com aquela que é a realidade social na nossa terra. Os resultados de um Inquérito à Condições de Vida e Rendimento das Famílias, do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado no passado mês de Maio, indicavam que, no final do ano 2018, a Madeira tinha a segunda maior taxa de risco de pobreza do país, taxa de risco essa, que atingia cerca de 81 mil madeirenses. Este Inquérito, que teve por base os indicadores de pobreza, privação material e intensidade laboral reduzida, demonstra que a luta contra o empobrecimento está longe de estar ganha, também na nossa Região. Podem vir dizer, em período pré-eleitoral, que a nossa economia cresce há 68, 69 ou 70 meses. E até pode ser verdade. O problema é que estes números não batem certo com a realidade diária das pessoas. Se há tanta pujança da nossa economia, porque é que a esmagadora maioria dos madeirenses e portossantenses não sentem essa “prosperidade económica” no seu bolso e à sua mesa?! Quando o próprio governo regional reconhece que financia diversas instituições privadas para ajudar no combate à pobreza, muitas delas que prestam apoio na atribuição de refeições a milhares de pessoas que delas necessitam, vir dizer que “não há fome na Madeira”, mais do que uma insensibilidade atroz, é de uma irresponsabilidade gritante. O próximo governo da Madeira, tenha ele a cor que tiver, tem a responsabilidade e a obrigação de reforçar o empenho no combate à pobreza e à exclusão social, implementando medidas concretas que resolvam os problemas e supram as necessidades sociais dos idosos, dos desempregados, dos trabalhadores que têm rendimentos de miséria e, até, de uma classe média que foi destruída pelas políticas erradas que os respetivos governos implementaram no país e na região. E que não mais se diga que “não há fome na Madeira”, enquanto for necessário atribuir refeições para suprir as necessidades mais básicas de tantos conterrâneos nossos. E que o próprio governo trate de implementar essas medidas, com os seus meios, sem ser necessário distribuir tanto dinheiro para que terceiros fiquem a gerir o negócio da pobreza. Porque o apoio social não é, nem pode ser, um negócio.

 

Publicado em Dnoticias.pt