Empreendedorismo à Frei Tomás

Bem pregam o empreendedorismo os governantes regionais, mas tal como Frei Tomás, olhem ao que ele diz e não ao que ele faz. Mandam sair da zona de conforto, mas eis que colocam-se a sí próprios no conforto dos tachos da Administração Pública.

Bem pregam o empreendedorismo os governantes regionais, mas tal como Frei Tomás, olhem ao que ele diz e não ao que ele faz.

Após as eleições assistimos às habituais danças de cadeiras: governantes que entram e outros que saem. Dado o papel central que o tema do empreendedorismo tem no discurso do Governo Regional seria de esperar ver os governantes não reconduzidos a darem o exemplo e a porem em prática o que pregava: investir as suas poupanças na criação de empresas e empregos, a tornarem-se empreendedores.

Mas eis que afinal foram todos (ou quase) colocados no conforto de tachos da Administração Pública. Até foram alargados conselhos de administração e revistos estatutos de organismos públicos para caberem todos. Fica assim demonstrado como os governantes levam muito a sério o que apregoam no exercício das suas funções. Arriscar? Os outros que arrisquem!

Empreendedorismo é para os outros. Para os desempregados deixarem de contar como tal nas estatísticas, para alimentar uns negócios de estudos de viabilidade, de formação no dito “empreendedorismo”... depois do prazo de obrigatoriedade de manutenção das portas abertas, os promotores são aconselhados a recorrerem à insolvência individual e a emigrarem, depois de cinco anos a “ficha” estará limpa.

O Governo faz gala com os números de empresas e empregos criados (55 e 94 respectivamente em 2019 só à conta do Instituto do Emprego), faria melhor em informar quantos sobrevivem ao fim de cinco anos e quantos terminam em insolvências individuais, na ruína das famílias e na emigração.

Empreendedores de sucesso são os que vivem à sombra do Orçamento Regional, com lucros garantidos pelo Governo através de leoninos contratos de concessão. Que o digam Via Expresso e Via Litoral que no conjunto lucram 80 milhões por ano, ou o Teleférico do Funchal em que mais de 70% das vendas são lucro - são negócios das Arábias.

É o dinheiro de todos nós que alimenta esses lucros fabulosos e fazem a fortuna dos donos da Madeira. É inaceitável que as outras empresas beneficiárias de concessões (das ligações ao Porto santo, dos portos, das inspecções automóveis ou das cantinas escolares) não sejam obrigadas as publicar as suas contas para escrutínio de todos nós - obviamente não convém que se saiba quanto lucram.

 

(publicado em dnoticias.pt)