Causas e não casualidades

Sou muito favorável à política de causas e não de casualidades, e modas que passam.

Tenho andado muito atenta aos comentários depreciativos, que sempre se fez, mas que agora, com as redes sociais, aumentaram, especialmente sobre os políticos e as políticas. Tenho reparado que, muitas vezes, é mais fácil enxovalhar as pessoas do que as políticas que essas representam. Há pessoas que passam a vida a criticar que na política são sempre os/as mesmos/as, é preciso renovação, etc, mas, quando isso finalmente acontece, coitados/as dos/as que são colocados/as em lugares considerados “menores” e não de destaque, onde já estiveram muitos anos. Eu própria já senti na pele esta questão e, na época, não havia redes sociais, mas sim cartas anónimas. E valia tudo.

Há pessoas que passam a vida a comentar as políticas dos partidos dizendo que não se identificam com os mesmos, constituindo elas próprias outros partidos, mas tendo a bendita lata de continuar a julgar a vida das outras pessoas como se estivessem por dentro das situações. E há quem, tendo feito as suas “limpezas” internas, passando sobre tudo o que parecia “normal”, ainda se solidarizam, hipocritamente, como se só eles/as é que tivessem o direito democrático de tomar decisões diferentes.

Muita gente apregoa a democracia, mas depois são as primeiras pessoas a apontar o dedo quando essa democracia é posta em prática. Tenho visto comentários a pôr em causa decisões soberanas de assembleias que são deliberativas naquilo que são os seus poderes de decisão. Até de congressos partidários, que são as assembleias magnas dos partidos. Há mesmo quem, perdendo dentro dos partidos, nunca aceite que perdeu e passe a vida a moer o juízo de quem venceu. Há também os/as que respeitam aparentemente as decisões, mas depois, subtilmente, fazem-se de vítimas, quando, sabendo que iam perder, nem quiseram se submeter a votos para os lugares que gostariam de manter. E há os que se mantêm apenas para xingar e denegrir quem, democraticamente, por maioria esmagadora das pessoas presentes, ganhou o lugar que ocupa. Para não falar dos/as que desmobilizam perante tudo isto e não querem saber da vida política para nada, com todos os prejuízos para a democracia, pois sem partidos não há democracia, pelo menos esta que até agora conhecemos.

Sempre considerei, e pratiquei, enquanto tive responsabilidades dirigentes, que a política é uma causa pública e, se for encarada como tal, o que tem valor são as propostas que cada partido apresenta e depois a sua prática concreta em relação a elas. Sou muito favorável à política de causas e não de casualidades, e modas que passam, enquanto os problemas, esses, por vezes até se agravam. Acho que, se tudo funcionasse conforme as regras estabelecidas democraticamente por cada organização, sem interferências externas e sem julgamentos em praça pública, a política sairia muito mais dignificada e havia mais espaço para os/as políticos/as fazerem o seu trabalho e, desta forma, ficava mais claro, aos olhos dos cidadãos e das cidadãs, quem merece o seu apoio na altura de votar.

Escolher com serenidade sem se deixar levar por manipulações, venham elas de onde vierem, está nas nossas mãos. É mais fácil dizer que não se quer nada com a política, mas está cada vez mais claro que tudo o que nos diz respeito, é política, e se nos diz respeito, temos que nos interessar. Pelo menos é isso que continuo a fazer.

(publicado no Diário de Notícias da Madeira a 03/07/2019)