2020 com mais participação popular

E o povo, em geral, como reage a isto? Indiferente. São coisas da política, logo os políticos que resolvam

Há dias, ao tomar um café com um jovem amigo, comentávamos que éramos uma espécie em vias de extinção. Isto porque, o que está na moda é cortar relações e deixar de falar com quem se discorda, ignorando, ou então, como é mais chique, bloqueando no facebook. Nós temos algumas divergências, em muita coisa, mas a nossa amizade nunca foi beliscada. Posso garantir-lhes que hoje isso é uma coisa rara, que vai passando para todos os quadrantes da sociedade, onde a “sectarização” passou a ser o pão nosso de cada dia. Não se debate opiniões diferentes porque isso é divisionismo e inveja. Toca a ostracizar quem assim não pensa. Não estás comigo, és contra mim. Isto leva a becos sem saída em muito lado, e eu sei do que falo.

Até nos eventos organizados por determinadas entidades, se formos a um deles, somos logo conotadas/os. E isto é válido para eventos públicos ou privados. A cidade, então, está cheia deles. Mais depressa fora dela as coisas passam mais despercebidas e a mobilização é mais multicolor, sobretudo a meio da multidão, que enche os olhos para as fotos das redes sociais e dos jornais. A sociedade está a criar uma divisão que me preocupa e que apetece fugir e não participar em nada. Tudo tem conotação, com isto e com aquilo, até num simples concerto musical. Não gosto desta sensação, lembra-me outros tempos de má memória.

Cada vez mais a sociedade está dividida em grupos e grupinhos, que vão se sobrepondo uns aos outros. Gasta-se o dinheiro do erário público de forma tão descarada que mete dó. Dá-se presentes a classes profissionais, empresários, instituições e associações, sobretudo se fizerem o jogo preparado por quem detém o poder. Tudo com o dinheiro dos nossos impostos, e ninguém refila. Então se for o “senhor governo”... que maravilha! Que coração tão generoso, que preocupa-se em colocar todos os/as amigos/as nos lugares de decisão! Muda-se num instante uma amiga das atividades económicas para dirigir a saúde. Um simples deputado de um partido perdedor é colocado em presidente do parlamento, e altera-se a lei para colocar outros noutros lugares.

Os grandes problemas, esses, empurra-se com a barriga e culpa-se “os outros”. Se forem de fora, ainda melhor. Estou expectante como vão cumprir as promessas dos programas eleitorais. O orçamento apresentado pelo Governo da República, se não sofrer alterações significativas na especialidade, é uma deceção. Aí percebe-se claramente porque não quis fazer acordos assinados com alguns partidos de esquerda.

Estamos sem orçamento regional e ainda não se vislumbra quando teremos a baixa de impostos, há tanto tempo prometida. O mais incrível é que o governo coligado continua a agir a seu bel-prazer, e a governar como se já existisse orçamento. Trabalhar com duodécimos não dá para dar tantos presentinhos aos amigos como temos visto. Agora o maior e mais escandaloso é dizer que vão comprar a SDM e pagar ao grupo Pestana uma coisa que não lhes pertence e é público. Vale tudo para a direita do governo mostrar serviço.

E o povo, em geral, como reage a isto? Indiferente. São coisas da política, logo os políticos que resolvam. Esta falta de preocupação popular preocupa-me imenso. É que a política comanda as nossas vidas em tudo. A indiferença é o pior inimigo do povo que alguns adoram alimentar e se aproveitar. Desejo, sinceramente que em 2020 haja mais olho aberto e maior participação popular, para defender o que é justo e que é de todas/os nós.

 

(publicado em dnoticias.pt)