QUE VIVA SEMPRE O 25 DE ABRIL NOS NOSSOS CORAÇÕES

"Falar do 25 de Abril, tantos anos depois, pode parecer para as gerações mais novas uma questão de gente velha. Porque quem por ele não passou e já nasceu com os direitos adquiridos pensa que foi sempre assim para toda a gente" - Guida Vieira

Eu tinha 24 anos quando aconteceu o 25 de Abril. A Revolução dos Cravos nas pontas das espingardas. A Revolução feita por militares mas que teve um povo inteiro a apoiar. A Revolução que nos fez descobrir palavras novas como a própria Revolução que a maioria nem sabia o que era. A Liberdade, a Democracia, a Autonomia, o Socialismo, o Comunismo, a Social- Democracia, enfim um sem número de palavras que passaram a fazer parte da nossa linguagem mas que até então nos estavam vedadas. Os poucos que delas percebiam, viviam e actuavam, na clandestinidade, ou estavam fora do país.

Até então, as e os trabalhadores, pagavam, obrigatoriamente, uma quota para o sindicato do respectivo sector, mas quem controlava o sindicato era o Ministério do governo Central que era fascista. Os contratos de trabalho eram publicados a nível nacional e estendidos a todo o país. Não existia qualquer intervenção nem controlo dos trabalhadores. Os salários eram miseráveis, não existia salário mínimo, isso só aconteceu depois do 25 de Abril de 1974, e os direitos a férias e subsidio assim como o subsidio de Natal e os direitos de maternidade e paternidade.

Em 1975 foi publicada uma nova lei sindical onde os Sindicatos começaram o seu percurso de democratização e os primeiros contratos de trabalho começaram a conter novas e importantes reivindicações. Foram eleitos novos/as dirigentes sindicais e pela primeira vez delegados sindicais enquanto representantes dos/as trabalhadores dos locais de trabalho. Foi bonito ir reunir aos locais de trabalho, debater com toda a gente as reivindicações. Fizeram-se importantes lutas pela defesa dos postos de trabalho e até por solidariedade para com camaradas de outras empresas para não serem despedidos.

Foram tempos de grande descoberta mas de muita aprendizagem. O dia tinha mesmo 24 horas e essas eram quase todas preenchidas por esta luta. Ocupou-se as portas das empresas para não deixar sair materiais e outros equipamentos, de noite e de dia, com bombas da FLAMA a rebentarem ali perto. Sim porque tivemos terrorismo político bombista na Madeira que chegou a matar pessoas e a ferir outras, que atacou sedes de partidos de esquerda, que ardeu carros de pessoas de esquerda, que amedrontou personalidades que saíram da Região com medo das consequências de tal acto.

Os que não tiveram medo e por cá ficaram enfrentaram com muita coragem as lutas por uma vida melhor em todos os sentidos. E foram muitas, essas lutas. De trabalhadores/as por melhoras de condições de trabalho e de caseiros contra a colónia recusando-se a entregar ao senhorio as benfeitorias do fruto do seu trabalho.

As ruas da nossa cidade do Funchal enchiam-se de pessoas que se vinham manifestar vindos de outros concelhos da Região. Fizeram-se muitas manifestações, muitos comícios, muitas reuniões. Tivemos problemas com a polícia e com parte das forças armadas que na Madeira não estiveram ao lado do povo como víamos em outros locais do país. Não desistimos e fomos nos ligando à luta nacional, quer sindical, quer política e surgiram as primeiras eleições regionais em 1976 onde se elegeu a primeira Assembleia Regional consagrada na Constituição da República Portuguesa.

A UDP elegeu dois Deputados, Paulo Martins pelo Círculo do Funchal e Martins Júnior por Machico. Estes dois Deputados revolucionários levaram para dentro do Parlamento as reivindicações dos/as trabalhadores, agricultores e do povo em geral. Tiveram um papel ímpar na luta popular na Madeira. A Eles presto a minha homenagem neste 25 de Abril e que o seu espírito aguerrido nunca morra nos nossos corações. Sabiam combinar a sua intervenção parlamentar com a mobilização do povo cá fora. Muitas vezes as bancadas do parlamento ficavam cheias de pessoas que iam assistir aos debates. A política era muito valorizada porque sabia fazer esta combinação participativa que dava valor aos eleitos e aos seus apoiantes.

Que este espírito participativo nunca morra nos nossos corações porque só estaremos a honrar o verdadeiro 25 de Abril.

 

 

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Guida Vieira