A competitividade na escola e no trabalho levam à violência

A instrução por sua vez é mercantilista, utilitária, muito virada para a competitividade e para o proveito imediato que dela se possa retirar e esquece o lado humano dos alunos. A formação deverá ser mais humanista, e promover a inteligência emocional dos jovens. A violência decorre da dificuldade em lidar com as emoções.

O Bloco de Esquerda promoveu um debate sobre a violência no namoro com a participação do ator Hugo Castro Andrade, do professor Rui Ferrão e moderado pela psicóloga Luísa Santos.

Luísa Santos começou por enquadrar o tema, mais de 50% dos jovens reportam terem vivido situações de violência no namoro nas suas várias caraterísticas, física mas também o controlo a chantagem, as perseguições, situações que configurando violência nem são reconhecidas como tal pelos adolescentes e até são aceites como naturais. A violência no namoro é precursora da violência doméstica um flagelo que este ano já matou doze mulheres em Portugal. 

 

Teatro é a arte mais completa para o desenvolvimento humano, referiu Hugo Castro Andrade, e pode ser utilizado como ferramenta para combater o fenómeno da violência no namoro é assustador, considerou. As tecnologias recebem a adesão dos jovens que ficam reféns desta, por uma lado facilita a comunicação, mas ao mesmo tempo torna-se um obstáculo, pois não permite comunicar as emoções e impede-nos de ler e de interpretar as expressões e as emoções dos nossos interlocutores.

E perante essa dificuldade de comunicar e ler emoções os jovens refugiam-se mais no mundo virtual, evitam os frente a frente. Quando têm problemas em casa esse é mais um fator que os empurra para o mundo virtual. Para os pais esta a solução fácil é entregar um tablet e não chateiam. Tornam-se alheados da realidade e depois na escola mantêm o alheamento.

Falta capacidade de diálogo aos pais que estão sempre muito ocupados com o trabalho, os afazeres domésticos e os seus problemas pessoais, mas também aos professores ocupados com o cumprimento dos programas e dos objetivos pelos quais vão ser avaliados.

O namoro torna-se um jogo – ver quantos/as consigo conquistar. A dificuldade em lidar e com as próprias emoções leva à violência. Falta capacidade de diálogo dos pais, temos de reinventar-nos para entrar na cabeça deles, é preciso saber ouvir e tentar compreender.

 

Rui Ferrão, professor de história e candidato do Bloco de Esquerda às eleições europeias, considerou que a escola dá a instrução, não a educação, isso compete às famílias. Mas estas estão pressionadas pelos horários de trabalho cada vez mais exigentes, pela invasão do espaço doméstico pelas tarefas que levamos para casa, pelos e-mails do trabalho que chegam ao telemóvel a toda a hora. Pressionadas pela insegurança no emprego e pelos baixos salários o que obriga a desdobrarem-se em várias ocupações.

A instrução por sua vez é mercantilista, utilitária, muito virada para a competitividade e para o proveito imediato que dela se possa retirar e esquece o lado humano dos alunos. A formação deverá ser mais humanista, e promover a inteligência emocional dos jovens. A violência decorre da dificuldade em lidar com as emoções – um professor às vezes está zangado e os alunos não conseguem reconhecer que ele está zangado – e se os jovens não reconhecem as emoções de um professor também não reconhecerão as dos namorados.

Temos uma tendência de ocultar as nossas emoções dos outros, há situações em que isso é um problema e os pais devem estar atentos. A tendência para proteger os filhos remete-os para uma redoma que em vez de proteger isola-os. Os jovens estão demasiados isolados, precisam de mais comunicação, de saber exprimir o que sentem, sem recurerem à violência.